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Saturday, March 5, 2011

Amor, aromas peles
Sonhos seios
Receios em anseios
Completados.
Aços ócios ossos
Olhos boca e lábios
Sábios rumos,
Fumos
Somas.
Romãs e Roma
Delírio e sombra
Castas luzes
Na escuridão
Destinos desatinos
Atino e quando eu posso
Roçando a tua boca
Bebendo a quase louca
Vontade sem juízo
Matizo em cores tais
Brindando em teus cristais
Espaços magistrais
E neles descontrais
E permitindo a festa
A cada fresta exposta
Gestando o quanto gosta
Em tramas, lamas, camas
Sexo.
Anexos plexos
Trazem ânsias várias
Rondas, ondas escondas
E apareças,
Peças
Teças
E não te esqueças,
Refaça
Seja.
Ao fim de tudo
O prazo, a soma
Estromas, frondes
Num cálice sobejo,
Beijos, seixos, semblantes vários
Itinerários onde
Amor responde
E gera amor.
Quem sabe?
Cabe e não acabe.
Apenas confabule
Sem bula e sem remendo


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Amiga, a liga que nos une
O quanto já se pune
Impunes noites vãs
E sei destas manhãs
Imersas noutras sendas
Revendo o que desvendas
Bebendo o quanto atendas
E emendas ou remendos,
Adendos onde explodem
Realces, alças farsas,
Falsas impressões?
Senões em vão
E o grão alçando o solo
Enquanto além assolo
E sorvo a claridade
Na força da amizade
Incorruptível passo
E traço e faço em laço
O abraço, onde o cansaço
Jamais impediria
O dia após o dia
O vento que viria
Trazer à fantasia
O todo em alegria
Ou mesmo consonância.
Amiga, a concordância
Ou discordância traz
A vida em força plena.
E quando ao fim acena
Expressa a magnitude
Do quanto mesmo pude,
Vencendo a tempestade,
Ousando na amizade...


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Amar e ser feliz
Audaciosamente a mente emite
Os seus sinais
E tenta muito mais
Que meramente a luz
Numa explosão de cores
Seguindo aonde fores
Em flores e perfumes,
E nisto até que rumes
Por cumes tão diversos
Na imensa cordilheira
Dos sonhos, a altaneira
Vontade se moldando
Gerando desde quando
O tanto que se quis
Traçando o mais feliz
Momento em plena forma,
A vida nos transforma
E normatiza o fato
Aonde me constato
E bebo em profusão
O cálice sagrado
Do amor anunciado,
Em ritmo de explosão.


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Já não mais caberia
O dia a fantasia
No carnaval da vida
Há tanto em despedida
Provendo sem saída
O que já não coubera
Da espera noutra esfera
Em luzes tão diversas
As sombras vão imersas
Nas tantas emoções
E sigo em dimensões
Ainda sobre os mares
Vivendo em teus amares
Marés em luas claras,
E quanto mais declaras
Ou mesmo me escancaras
A fonte inesgotável
Do amor imaginável
Em tempo onde arável
Cenário dita os grãos
E embora fossem vãos
Os dias que passaste
Agora num contraste
Imensa direção,
Vagando em prontidão
Na rara embarcação
Das sendas da paixão...


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Um gole que não bole
Com toda a majestade
Da velha claridade
Em amizade exposta
No tempo onde se aposta
No canto que desgosta
Ou mesmo em frágil crosta
Acossa-me a certeza
Do prato sobre a mesa
Do brinde em rara festa
E assim o que me resta
Explode em multicor.
Bem mais do que no amor
Uma amizade rege
Apascentando herege
Gerenciando a vida
Deveras contornada
Ou mesmo consumida
Após o quase nada
Na sorte resumida
Da luta que se expõe
E nela hoje propõe
Enfim uma saída,
Amigos, encontrei
Imensa e bela grei
No mar onde entreguei
A sensação liberta
De quem agora acerta
O passo no infinito
E o tempo mais bonito
Aberto em claridade,
Exprime uma amizade
Que tanto necessito.

O verso de saudade
Invade o coração
De quem em emoção
Bebesse a liberdade,
Vagando na cidade
Imensa procissão
Dos raios, claridade
Do amor em decisão,
O medo desagrade?
Os dias mudarão
A dimensão do vento
E mesmo em contratempo
O tempo em movimento
Traduz esta emoção.
Saudade que se acene
Enquanto não condene
Tampouco me serene
Apenas me conturbe
No vórtice do sonho
O templo onde o componho
Domina inteira esta urbe.

Friday, March 4, 2011

Um verso verbo imerso
Em luzes tão diversas
Versa sobre o tanto
Enquanto espanto
O pranto e busco o sonho.
Amor? Componho
E ponho
O barco
Em mar imenso
Adenso a voz
E tento após
Vencer os ermos
Em termos tais
Que possa mais
Nos teus andores
Amores flores
Rumores, senso,
Imenso e intenso
Criando um cais
Nos braços teus,
Sem ter adeus
E sendo assim
Amor que enfim
Traçasse em mim
A convergência.
Sem paralelos...


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UM NOVO PROMETEU

O Teatro clássico era feito em versos, principalmente em alexandrinos. este formato de um drama ao qual chamei UM NOVO PROMETEU, confeccionado em sonetos, creio ser o primeiro da história da literatura, espero que gostem e se tiverem notícias de outras peças desta forma me digam por favor.
abraços marcos





UM NOVO PROMETEU


PERSONAGEM

RICARDO – HOMEM DE MAIS OU MENOS 50 ANOS

ATO I

CENÁRIO – A sala de uma casa em fraca luz, década de 2010 com pouquíssimos móveis.
Um sofá puído e uma estante desarrumada.
O que se vê é a janela sempre fechada não dando para discernir direito se é noite ou dia, como se fosse num eterno crepúsculo.

Durante o tempo todo o personagem fala como se alguém o escutasse, olhando vez em quando para a platéia.
















CENA 1



A vida se traduz aonde nada resta
Somente o que buscara em leda e frágil fresta
Restando a voz sofrida embalde sonhadora
De quem tanto se fez e quando além já fora

Mergulha no que possa e tenta alguma festa
Do medo quando a luz encontra a mais infesta
Vontade de vencer a sorte sofredora
E nisto se deslinda a luta tentadora,

Não pude ser feliz e nada mais traria
Sequer o que buscasse em luz e fantasia
E o verso adentra a noite embalde e sem proveito,

E mesmo quando audaz o passo se desfaz
Gerando o que inda busca e deixa para trás
Apenas o que tento e nem sequer aceito.


-

Já nada caberia ao passo mais veloz
De quem de uma alegria expressa a louca voz
Marcada pelo incêndio em dores mais sutis
Deixando para trás o que deveras quis,

No corte que se vê o mundo segue após
E tenta sem sentido o mesmo canto, algoz
Do marco que pudera em atos mais gentis
Seguindo sem defesa apenas por um triz.

O prazo determina o fim de cada verso
E nisto se pudesse ainda quando imerso
Nas tramas deste engano apenas contumaz.

Vestindo o que me coube, apenas um bufão,
Olhando para trás sem rumo e dimensão,
O pouco que inda sobra o tempo ora desfaz.


-

Amigo me perdoe, estúpido poeta
Que tanto falastrão gerara a mais completa
Insensatez e atroz bebesse este vazio
Aonde o que inda possa espúrio desafio

Marcando o que inda tenho e nada mais repleta
Nos ermos da esperança apenas mera seta,
E nisto o que pudera atravessando o rio
Imerso neste passo ainda que sombrio,

Reveste cada engano em ledas farsas, sonho.
E no final do dia o que trago e decomponho
Gerasse tão somente a ausência de outro porto;

Embora sem saber dos dias que virão
O todo se desnuda e sem a dimensão
Do quanto imaginei, prossigo semimorto.



-


Não pude acreditar e nem mesmo o quisera
Sabendo desta vida em luta amarga e fera
Galgando imprecisões e nada mais se vendo
Somente o que se fez apenas o remendo,

O mundo se pudesse em voz clara e sincera
Marcando o quanto vejo em noite mais austera,
Depois de caminhar em rumo tão horrendo
O verso sem sentido aos poucos recorrendo

Do infausto sonhador em leda temperança
A vida sem sentido invade e já me alcança
Brumosa noite escusa em meio aos temporais

As rosas que busquei, mortalha em duro estio,
O tempo se anuncia e nele o corte espio
E vejo tão somente o mesmo tom: jamais.


-


Angustiadamente o quanto se percebe
Sem nexo ou sem proveito em cada dura sebe
Vestindo a hipocrisia e nada mais tramando
Somente o mesmo passo atroz enquanto infando,

E o vento em minha face, amor teima e recebe.
Mas quando da ilusão sem nexo agora bebe
O verso se presume e tenta anunciando
Um rumo em desvario e sempre desabando

Depois do mero caos em noite tenebrosa
Ousando em duro espinho adivinhar a rosa
Ecoas sem saber o quanto dói em mim

Viver o que inda possa e ter além do fim
O mundo mais sutil ou mesmo em plena paz.
Sabendo o que me espera: a mão de Satanás...


-


O verso sem juízo invade a tempestade
E bebe o que inda resta, ao menos liberdade
E nada do que possa ainda se apresenta
Vencendo a vaga noite imersa em tal tormenta,

Voando muito além do quanto queira e agrade
O mundo se anuncia e nele a ansiedade
Enquanto se decifra o todo que alimenta
A morte noutro passo e nisto me apascenta.

O prazo terminando e o canto sem proveito
Toando dentro da alma o quanto não aceito
E mesmo redimisse enganos costumeiros,

Apresso cada passo e busco os derradeiros
Momentos onde eu possa agora ser feliz
Deixando para trás o quanto o contradiz.


-

Nascendo nas Gerais em meio ao desafeto
Prenunciando a vida aonde me depleto
Nos ermos mais banais desta alma solitária
Viceja outro jardim na noite imaginária.

E quando noutro rumo o passo ora completo
O sonho determina o prazo em ledo veto,
E nada mais pudesse a sorte solidária
Sabendo do que resta em noite amarga e vária.

Mas tendo na esperança além da mera sombra
Que tanto quanto ajuda às vezes nos assombra
Encontro o meu caminho imerso noutro engano,

E sei do que pudera e quando assim me dano
No pranto sem sentido e o tempo sem provento
Esqueço o que sofri; ao menos isto eu tento...


-

A vida em sortilégio expressa o que inda tento
E brindo com meu sonho ao claro provimento
De quem se fez além de mero desencanto
E tramo novo dia embora em vão quebranto,

E quando me aproximo e nisto agora invento
O prazo se extermina e sigo contra o vento
Depois do que viria e nada além do canto
Regendo o pensamento e o fim ora garanto.

Não tendo o que pudesse ainda me acalmar
O medo se apresenta após raro luar
Deixando como herança um raio mais sutil,

Porém inutilmente o todo se prevendo
Ousando ser bem mais que mero e vão remendo
Do quanto desejara e nada mais se viu...

-

Deixando para trás as tantas inclemências
Porquanto acreditar além das penitências
Gerasse no meu sonho a rubra fantasia
E nela o que pudesse e mesmo até teria

Erguendo sem temor a vida em ingerências
Diversas do que trago em lutas, consciências
Matando o quanto vejo em leda alegoria
E nada mais se vê; apenas a agonia.

Pudesse até voar e fosse bem distante
Do quanto se desenha e nada mais garante
Na imensa liberdade em canto ou esperança;

Porém quem tanto quis e nada conseguira
Expressa a realidade enquanto a vida gira
E tanto que quisera, ao fim pára e se cansa.


-



No prólogo da vida a peça se encenando
Em rumos mais sutis e nisto desde quando
O todo não pudera em expressão diversa
Falar do que em verdade o tempo desconversa

Castelo de ilusões? Percebo-o desabando
E o vento noutro rumo aos poucos entornando
O quanto se quisera e agora se dispersa
Enquanto em pesadelo a sorte nega e versa.

Resulto deste vão e nada mais teria
Senão este caminho em busca da alegria
Utópica senhora, em luz ou na penumbra

E o quanto se quisera a sorte mal vislumbra
Deixando para trás a luta sem final,
Vestindo esta esperança em rústico sinal...


-

Acordo e nada vendo além desta geleira
Que tomando a janela expressa a derradeira
Vontade do que fora e nunca mais voltara
Deixando eterno inverno em toda esta seara

Matando o quanto pôde a sorte verdadeira
E nem sequer presumo ainda uma lareira,
Somente a solidão e nela se prepara
A morte a cada ausência e a luta não prepara

Apenas diminui a chance de quem sonha
Numa expressão mordaz, atroz quanto medonha
Vestindo na medida a justa sensação

Do fim que se aproxima em clima dolorido
E o quanto inda me resta, ao fim de tudo olvido
E bebo sem sentido, a viva podridão...

-

Ausente juventude e a noite se transborda
E nada do que pude ainda segue à borda
Do sonho mais feliz que nunca fora meu
E o que deveras trago aos poucos se perdeu.

Minha alma solitária estúpida recorda
Do quanto imaginara e nada mais acorda
Somente a dor do vento e nele o imenso breu
Gerando o que tentara e há tanto se escondeu.

Pousando mansamente em sonhos noutro cais,
Esqueço num instante os rudes vendavais
E bebo da esperança, espúria companheira

E o verso sem sentido e mesmo em dor e tédio
A vida se presume e mostra sem remédio
E pelos dedos sinto enquanto além se esgueira...





CENA 2

O mesmo ambiente, o personagem está de pijama, sentado no sofá e se vê jornais jogados pelo chão da sala.


Quem sabe a morte seja a sorte que prometes
As gotas desta chuva atrozes canivetes.
E neste vil cenário o rumo se desenha,
Ainda que eu pudesse em leda brasa e lenha

Tentar seguir o passo; a sorte comprometes
E deixa para trás as dores quais vedetes
Da festa que ilusão ainda que a convenha
Encontra num resumo o quanto não mais tenha.

O tempo não prepara e traz a velha queda
E o pranto noutro pranto aos poucos já se enreda
Deixando no passado apenas a ilusão

Restando dentro em nós a verdade cruel
E dela o que anuncia expressa o seu papel
Matando sem sentir os dias que virão.



Porquanto a vida fora espúria e sem juízo
Na solidão que adentro e sei quanto matizo
Os bares noite afora, um pária e nada mais
Expresso o que buscasse além dos temporais;

Acumulando enfim diverso prejuízo
E nada mais pudera ao ser sempre impreciso
Braseiro da esperança, em dias desiguais
Responde no final, em mesmo tom: jamais...

Um dia a mocidade ou mesmo o sortilégio
Gerasse noutro encanto um tempo em privilégio
E o vago deste sonho encontra o fim de tudo.

Negaceando o passo em volta do vazio
E quando sem sentido algum deveras crio
Apenas se apresenta o quanto desiludo...



Em noite mais bravia a sorte desandara
E quanto mais dorida a vida atroz e amara
Traçando sem proveito o verso mais sutil,
O mundo desabando aonde o vão previu.

E nada do que possa agora se prepara
Vencendo em destemor a sorte que se ampara
No corte mais dorido e sei decerto vil,
Deixando para trás o todo que não viu

Senão a tempestade e nela o que se espera
Apenas o vazio em bote da quimera
E o prazo determina o fim de uma ilusão

Quem dera ser feliz, ou mesmo acreditar
Que em meio à farta bruma ainda algum luar
Trará em turvo olhar, ao menos um clarão.





Perder o que se tem, decerto é dolorido
A vida perde o chão e o tempo dita o olvido
E resta tão somente o fim que não previra
Traçando a tempestade aonde adentre e fira.

Porém o que hoje sinto em passo resumido
Não traz esta verdade e toma este sentido,
O prazo que findara, apenas é mentira
A Terra ora caminha e sei do quanto gira,

Mas quando na verdade o fim fora mostrado
Bem antes do começo e dele não me evado
Vestindo a carapuça em lágrimas, terror.

Aonde não sentira as tramas de um amor
Acordos entre nãos e mortes tão somente
O quanto se anuncia e sei que se apresente.



Cena 3

Uma claridade bruxuleante adentra o mesmo cenário.



Da lua e dos sertões, imagens distorcidas-
A seca de minha alma ainda dita as vidas
E nelas o que penso ou mesmo poderia
Não mais me permitindo o sonho e a fantasia.

Do quanto em vendaval as horas resumidas
E delas o que vejo em noites consumidas
Na busca pelo cais que nunca mais veria
Felicidade? Eu sei... Apenas utopia.

Mas quando se presume o fim sem qualquer chance
De ter noutro momento a paz que nos alcance
A dor se multiplica e gera o imenso caos.

Os dias sem proveito e neles outros graus
Vicejam no vazio ainda que se tente
Mudar o descaminho, atroz e imprevidente...




O fim se aproximando; e nada mais consigo
Somente o quanto é rude a vida em desabrigo
E tento caminhar lutando contra a fúria
Da vida sem proveito e mesmo em tal lamúria

O canto se apresenta e nele outro perigo
O verso sem segredo o mundo onde persigo
E embora se anuncie ao fim tanta penúria
A luta se aproxima e nisto a velha incúria

De quem se fez poeta e tanto quis o brilho,
Sabendo a solidão que agora em vão palmilho
Expresso o que não veio e nunca mais virá

Tentando descobrir o mundo desde já
Diverso do que a vida apenas me traria
Matando o que restasse ainda em fantasia.





O caos de quem se fez em noite mais brumosa
Enquanto a sorte vem e nisto se antegoza
A morte em solidão e nada mais se visse
Senão a mesma dor e nela esta tolice

Deixando a minha estrada espúria e pedregosa
Matando em tanto espinho a amena e bela rosa,
O prazo determina além de uma crendice
Vagando sem sentido aonde se não revisse

Sequer uma esperança, ou mera juventude,
E tanto que pudera ainda quanto ilude
O velho sonhador sem eira, beira e cais,

Acende-se a fogueira e nesta mansa frágua
O todo que viera, agora em vão deságua
Traçando apenas isso: anseios desiguais.





Meu medo se anuncia após o que não veio
E sei do que pudesse e neste vão receio
Anseio sem saber o quanto ainda resta
Da vida sem sentido ou mesmo atroz, funesta,

O canto que se fez em ledo devaneio
O prazo que termina e nisto outro permeio
Gerando do vazio além do que se empresta
Matando pouco a pouco e sei quanto detesta.

Não tive qualquer sorte e sei do destempero
O mundo sem caminho expressa o desespero
Deste que fora aquém do quanto desejara,

A luta cansa e mata e nada mais se vendo
Senão a mesma face em tom diverso e horrendo
Abrindo no meu peito; imensa e funda escara.






Espectro de um passado ainda me rondando
E o tempo modifica? Apenas duro e infando
Meu mundo se perdera em bares e sarjetas
As sortes mais gentis, somente são cometas,

E quando noutro caos o todo transformando
A luta sem cansaço, o amor em contrabando
E ainda quando em riso o que ora me prometas
Prepara; a vida em dor, somente tais falsetas.

Não posso mais negar o quanto desejei
Tentando adivinhar diversa e calma grei,
Porém mera ilusão e nisto o que se vê

Não deixa que perceba ainda algum por que
Ou mesmo novo rumo em senda confortável,
O todo que sonhei? Alheio e degradável...



(Um ruído seco se escuta ao longe)

Escuto a voz do tempo e nada mais o cala
A morte se aproxima e toma inteira a sala,
O verso sem proveito, o canto desvalido
E quando só me deito, o todo enfim o olvido,

Porém a solidão ao ver alma vassala
Não deixa mais a paz e quanto mais escala
Andaimes da lembrança ausente algum sentido
O corte se aprofunda e ao nada enfim regrido.

Espectros do passado, ou mesmo a mera ausência
De uma esperança toma inteira a consciência
E mata o que pudesse em expressão sutil

Dizer do quanto quis e o tempo repartiu
Vagando sem destino em vida virulenta
Quem sabe esta mortalha, ao fim já me apascenta?






Falar do amor? Mas, como... A vida fora ingrata
E nada do que tento a sorte em paz constata
Invisto o passo quando a luta em tal contenda
Não traz o que inda queira ou mesmo se desvenda

A mão que se anuncia a mesma que maltrata
E traz a imensidão aonde a dor retrata
No prazo que se quis amor conforme lenda
Perdido em descaminho, a sorte sem emenda,

O nada após o nada e o fim ditando o tudo,
O canto que inda venha; imerge enquanto iludo
O coração sombrio e até mesmo patético

Resumo do que outrora ainda quis eclético
E vejo se perdendo em tramas desiguais
Deixando como rastro os dias mais venais.



(levanta-se e dirige à platéia)


Platéia? Para que? A luta se desenha
Sem nada que aproveite e mesmo o que contenha
Expressa a solidão de um vago marinheiro
Num mar onde pensara apenas mensageiro

Do todo sem juízo em clara e mansa ordenha,
Porém a mendicância alcança quem desdenha
Da sorte mais sutil, no verso derradeiro
Matando o que se viu, qual verme em hospedeiro

Rascunho da esperança, o verso sem proveito
E tanto quanto pude ainda ser aceito
No tempo mais fugaz ou mesmo imaginário,

O canto se anuncia e traz feito um corsário
O pânico a quem tenta apenas calmaria
E sabe muito bem, que enfim nunca a veria.





Perdoe se desnudo a face mais vulgar
De quem pudesse além apenas caminhar
Sem tanto vão tropeço em paz e calmamente
Ainda quando muito o sonho ora se ausente

E deixe sem sinal algum o que expressar
No pranto derradeiro aonde sem luar
A luta se moldara e nada mais consente
Quem tanto quis o dia em tom iridescente.

Nas ermas ilusões, apenas o vazio
E quanto mais reluto, em vão, pois desafio
O verso sem proveito, a noite em vaga luz

O quanto que pudera ainda sem descanso
Demonstra este sombrio espaço aonde avanço,
E sei da sorte feita em tédio, medo e cruz...




Quisera ser diverso em verso e dia a dia
No tanto que pudera a vida me traria
Apenas a verdade e nada mais ou menos
Dos dias entre sonho ou passos mais amenos.

Seria no final a amarga fantasia
Que tanto fere atroz e marca em utopia
Fazendo da esperança os duros vãos venenos
Tentando do bem pouco; instantes quase plenos.

Mas sei do quanto é rude a vida de quem ama
E nisto o que pudesse além da mera chama
Viver em fogaréu ou mesmo em clara paz,

Agora no final, apenas não compraz
Quem tanto quis o brilho e nada mais se vira
Somente a luta atroz expressa em vã mentira.


( senta-se novamente)

Durante muito tempo ainda acreditei
No amor como se fosse a sorte imensa, a lei
E o verso se mostrara em tom bem mais gentil,
Castelo de ilusão, aos poucos me traiu

E o que pensara ser quem sabe mesmo um rei
Agora se anuncia aonde não terei
Sequer outro caminho, ainda quando vil,
Vagando sem saber do quanto se previu

Jogado neste mar imerso em solidão,
O verso se aproxima e dele se verão
Ausências mais sutis e o nada dita a voz

Do quanto se queria, ou mesmo logo após
Naufrágio da esperança o canto sem provento,
O medo se anuncia imenso e torpe vento...





Já não pudesse mais vencer os meus enganos
E sei que acumulando a vida em tantos danos
Resumo cada verso em sonho e nada mais,
Ainda quando vejo o quanto vens e trais

Não tento caminhar em ermos desumanos
E nem modificar da sorte os duros planos
Restando apenas crer em dias desiguais
Deixando para sempre os cantos magistrais

Se a carne dilacera e nada mais permite
O verso se anuncia e sem qualquer limite
Embarco no vazio e nada mais possuo

O quanto solitário um dia quis ser duo
E trouxe esta mentira a mais em sofrimento,
Cansado desta luta, agora nada tento...


Cena 4


Mesmo cenário. O tom se obscurece um pouco mais e se houve o vento assobiando fora da casa, mas a janela continua fechada.




Ah! Noite sem estrela, apenas turbulência
Da vida sem sentido em louca penitência
Vagando noite afora ocasionando a queda
Apenas ao sombrio o passo se envereda

E o quanto se quisera em nova providência
Matando em nascimento ou trazendo a demência
A quem se tanto quis agora a sorte veda
Marcando o quanto trouxe em podre e vil moeda.

Jamais pude entender o sonho em esperança,
Pois sei que a cada dia o fim sempre se avança
E toma plenamente o que quisera crer

Na turva escuridão, buscar o amanhecer?
No olhar de quem sonhasse eu vejo algum farol,
Mas sei quanto é distante o dia em belo sol.





Liberto cada espectro em leda fantasia
E sei do quanto posso e nada mais teria
Senão este vazio aonde me adentrara
Marcando com temor a leda e vã seara,

O corte se apresenta e não mais me traria
Sequer o que procuro e mesmo até queria
No quanto a cada queda a sorte desampara,
Deixando sem sentido a senda que quis clara,

E navegando ao léu no carrossel das dores,
Aonde com certeza eu sei que já propores
Vestir em ilusão meu passo em rutilância,

Porém aumenta assim a imensa discrepância
Do quanto pude e tenho e o todo que busquei
Tornando sem sentido a turva e opaca grei.





Não pude constatar sequer uma esperança
Após a minha vida em meio ao nada
Depois do que tentara apenas a alvorada
O canto sem proveito ao fim ora se lança

E trespassando o peito, a solidão em lança
Deixando para trás a luta desenhada
No quanto se aproveita da sorte emaranhada
Nas tramas do vazio aonde o verso alcança.

Sombrias noites vejo e delas cada verso
Expressa o que em verdade apenas mal disperso
E vendo sem caber o quanto pude crer

No tanto que inda resta ou mesmo conceber
O canto sem proveito e o fim se aproximando
Marcando o que se fez em ar duro e nefando...




Cadenciando a vida, um dia imaginei
Vencer o descaminho embora fosse a lei
Mais costumeira e rude aonde o nada tive
Semente do passado e nela me retive.

E caprichosamente o todo que busquei
Expressa a solidão e nele mergulhei
Ainda quando em dor a sorte mal convive
Trazendo o que somente agora já me prive

Do verso e da alegria, embora nada veja
Somente o que pudera e quando em malfazeja
Verdade sem sentido e mágoa sem razão,

Os dias que puder e neles se verão
Ausência de esperança ou mesmo em amplitude
O quanto desejei e sei que desilude...


( dirige-se à platéia)

Perdoe a persistência em verso sem proveito
Da vida que decerto ainda dita o leito
Do velho sonhador embora sem saber
Do quanto se anuncia ou marca algum prazer,

No vento onde se entranha o rústico que aceito
Talvez a morte seja o derradeiro jeito
E nela o que se cresse ainda possa ver
No caos após a queda o fim em desprazer.

Gerando dentro em pouco apenas tempestade
O mundo em ilusões deveras já se evade
E marca com terror o verso mais sutil,

Ainda quando o quis, o todo não previu
Sequer uma saída ou mesmo em alegria
Senão esta mortalha imensa em agonia...






Apresentado à dor enquanto fosse assim
A vida que pudera esvai e toma o fim
Marcando em nebulosa a noite sem progresso
E nisto o quanto quero ainda em vão confesso

Tentando descobrir as flores de um jardim
Há tanto amortalhado ou morto dentro em mim,
E sei do que percebo em luta e retrocesso
Vestindo o quanto pude e em cada passo meço.

O rumo desta história apenas se perdendo
No tétrico caminho e nele em dividendo
Potencialmente a queda e dela sei do nada

Invisto cada sonho e tento a caminhada
Em meio ao que inda vejo e sei do final quando
Meu mundo sem sentido; o vejo desabando.





Insisto, mas sei bem do quanto nada resta
Sabendo aproveitar a mera e leda fresta
Por onde poderia ao menos ver a sorte
Diversa da que trago e tanto desconforte.

Ainda que pudesse a vida já não gesta
Sequer a fantasia audaz e mesmo honesta
Marcando com ternura alguma o duro norte
Prepara a cada instante apenas para a morte.

Nefasta imagem vejo e nada mais me abriga
Somente a solidão, embora turva amiga
Esqueço o que vivi apenas por instantes

Sabendo desde já o quanto mal garantes
Vencido caminheiro em busca da esperança
Quem tanto procurava agora enfim se cansa...


( o barulho do vento aumenta paulatinamente e o personagem retorna o seu olhar para o vazio)

O vento explode e traz consigo o sofrimento
Um náufrago somente ainda busco e tento
Sentir os pés no chão e sei que não terei
A sorte de seguir em paz a mansa grei,

Meu verso se completa em puro desalento
E sei do que pudera enquanto esteja atento,
Mas nada do que entranha a vida moldarei
Quisera a sensação que nunca mais verei

Do tempo em plena paz ou mesmo mais suave
E quando na verdade o verso em dor agrave
O pranto, busco aonde o templo em raro altar

Trazendo o quanto pude apenas desenhar
Na sórdida expressão sem rumo e sem sentido
Enquanto o verso atroz somente o que lapido.




Através da janela a imagem do meu sonho
Morrendo pouco a pouco, em passo que medonho
Expressa tão somente o quanto me restasse
Mostrando sem sentido a dura e amarga face

Do preço que se paga enquanto mal componho
O tempo sem destino e sei quanto enfadonho
Ainda que decerto o prazo não findasse
Regresso do vazio e bebo o que marcasse

Em carne viva a vida, apenas sem sentido
E o todo sem destino enquanto mal olvido
O verso em tom cruel atroz realidade,

E o prazo determina o quanto ora se evade
Do manto já rasgado e mesmo inutilmente
O que mais desejara ao nada se apresente.





Pergunto a quem quiser ou mesmo por clemência
Ainda me escutasse à luz da coincidência
O quanto se desenha em tom surdo e venal
Deixando como herança apenas temporal,

O medo se transcende e gera a imprevidência
A luta se anuncia e dela a consciência
Rasgando o quanto pude em tom consensual
Vestir da hipocrisia um gesto mais banal,

E sei do que decerto a vida não prepara
Deixando a cada passo apenas esta apara
E quando penetrando a pele de quem sonha

A chaga que anuncia embora tão medonha
Talvez seja o que reste a quem se fez aquém
Da luta sem sentido enquanto a morte vem.


( De novo se dirigindo à platéia)


Convido-te a brindar, um gole ou pouco mais
Embora no final; eu sei quanto me trais,
E canto sem razão a luta onde se avança
Deixando no passado a mera temperança

E quando se anuncia a vida em ermos tais
Os dias que se vêm decerto são mortais
E trespassando o sonho, apenas esta lança
Tentando acreditar no fim numa mudança.

Mas todo o meu anseio expressa a solidão
E dela novos cais deveras não verão
Saveiro mansamente após a tempestade,

Naufrágios que conheço e sei do que degrade
Matando sem defesa o sonho que me deste
E agora o que me resta expressa a dor e a peste.





Já não me caberia ousar em novo canto
E sei que se aproxima apenas desencanto
Depois do novo dia em luz turva e diversa
Meu passo sem sentido ao teu teimando versa.

E quantas vezes fui apenas o quebranto
O fim do sofrimento? Eu sei que não garanto.
A vida se renega e nisto desconversa
Ainda quando muito ao fim já se dispersa.

Semeio a tempestade e bebo o vendaval
Apenas para a morte ao menos um degrau
E nele se vislumbra o ocaso da viagem,

E quando no horizonte encontro a paisagem
Em trevas, nada mais, o tempo se anuncia
Num traço mais voraz em dor e em agonia...



( volta o seu olhar para o nada)

Espectro do passado ainda me atormenta
E traz em frenesi a vida tão sangrenta
Enquanto a paz tentara em nova provisão
Da sorte mais audaz ou mesmo em dimensão

Diversa da que vejo e não mais apascenta
Quem sabe muito bem da sorte violenta.
E embora sem sentido, os dias que virão
Deveras sem caminho envolto em solidão

Restando muito pouco ou mesmo quase nada
Da noite que julguei um dia enluarada,
Cansado desta luta e nela sem proveito

O quanto desenhei e sei que quando deito
Fantasma do que outrora em vão a vida lança
Matando o quanto resta ainda de esperança.





Jamais pude viver ao menos o sorriso
De quem ao desejar pudesse mais preciso
O passo sem sentido imensa tempestade
E nisto o que se vê apenas desagrade.

O mundo em tal tormenta enquanto ora matizo
Meu verso solitário e nele o mais conciso
Cenário se traduz além da realidade,
Cruel e desvalida exposta ao que me invade.

Não pude acreditar nem mesmo em novo tempo
A vida se expressando imenso contratempo,
Verdugo de mim mesmo, o canto se resume

E tento acreditar ainda em algum lume,
Mas sei desta sombria e imensa solidão
Tornando o dia a dia atroz, sem solução.




Ousasse ser feliz enquanto mais provável
Caminho se anuncia em tempo ora intragável
Vestindo em ironia o quanto se quisera
Depois de atravessando a sorte atroz e fera.

O quanto da esperança agora indecifrável
Marcara o quanto quis em noite indisfarçável
Seguindo o descaminho em luta mais sincera
Deixando sem sentido a sorte noutra esfera,

O canto sem proveito e o mundo sem juízo,
Das vendas da ilusão apenas prejuízo
E o prazo terminando expressa o que não veio,

Resulto deste caos e sei do quanto alheio
Meu mundo me traindo esgota alguma luz
Deixando para trás cenário que eu propus.




Encontro tão somente as marcas do que fui
Depois de tanto tempo, ainda a dor influi
E gera sem sentido o passo aonde tento
Vencer o quanto pude e sei do desalento,

Ainda quando muito o canto não conflui
O todo que desejo aos poucos queda e rui
Deixando como marca apenas sofrimento
E nisto o quanto tenho expressa este lamento.

Enfrento o dia a dia e nada mais se vendo
Somente este retrato e sei o quanto horrendo
O mundo na verdade expondo cada estorvo

E quanto mais crocita a noite feito um corvo
Presságios tão sutis em morte ou tempestade
Negando uma esperança aonde o vão invade.





A vida se pudesse ainda me trazer
A sombra do que fui envolto num prazer
Ainda que talvez somente imaginário
Mudasse num instante o velho itinerário

E o corte se anuncia aonde eu possa ver
Restando dentro da alma algum mero querer
E nada mais vencesse o risco temerário
De quem se fez feliz ou mesmo apenas vário,

Não tento acreditar na redenção de um sonho
E quanto mais mergulho, em vão eu me proponho
Na luta que não cessa e dela tento o encanto,

Porém o que se vê traduz velho quebranto,
E o frágil sonhador envolto no vazio,
Ainda quando muito a solidão recrio.




O vendaval espalha as cinzas da esperança
E quanto mais atroz em vão a vida lança
O mundo que eu quisera e agora já não há
Nem mesmo a menor sombra e sinto o que virá

Em tanta tempestade o quanto sem pujança
A vida traiçoeira explode em tal vingança
Marcando o quanto resta e sei que inda trará
O todo que deixei aqui ou mesmo lá;

Meu verso inutilmente ainda busca a paz
E sei da solidão enquanto o nada traz
Somente esta desdita em dor e turbulência

Ainda quando bebo a amarga consciência
Da vida inutilmente envolta no vazio
E opaca fantasia o quanto em vão recrio.





Tentando acreditar no dia que não veio
Seguindo neste ocaso em dor e devaneio.
Incauto camarada a sorte não traria
Sequer o quanto possa em nós a fantasia.

O mundo sem juízo o corte em vão recreio
Persisto e me encontrando aquém e mesmo alheio
Não vejo nosso amor qual fosse uma utopia.
Sabendo que ao final, mera melancolia,

O canto se espraiando aonde o nada existe
O olhar imaginário agora vejo triste
E nada que se fez permite acreditar

Num rastro magistral envolto num luar,
Somente esta semente aborto inevitável
No solo da esperança atroz e nunca arável.





Das trevas escoltado ainda pela dor
Vencido sem destino. Olhar dita o pavor
E nada mais se visse além deste sombrio
Caminho aonde tento e mesmo desafio

Ultrapassar o medo, embora em tal andor
A sorte se desenha em luto e desamor,
Não tendo outro caminho, apenas já desfio
O tempo em verso rude e sei do quanto esguio.

Reparo cada estrela e sei que não terei
Sequer a menor sorte nada dita a lei
Do caos que mais sutil apenas a lembrança

Do amor que tanto quis e nunca mais teria
Vestindo esta tormenta imersa na agonia
O rumo tanto rege o passo que ora cansa.



Não pude acreditar apenas no que vejo
E sei do meu caminho em luto e malfazejo,
Cabendo muito pouco a quem quisera mais
Sobrando tão somente em rudes vendavais

O medo sem sentido e a luz onde prevejo
O fim da dura vida; em tétrico trovejo
E o prazo se findando ainda em dias tais
Sem rumo e qualquer nexo imerso em tons venais.

Pudera acreditar num ato consistente,
Mas nada do que vejo ainda se apresente
Somente a morte em vida e o canto sem proveito,

E quando em solidão, imensa ora me deito
Espero sem saber o que jamais viria
O amor ou mesmo a paz, inútil fantasia.




Ao terminar este ato aonde me desnudo,
Encontro o desacato em tom atroz e agudo
Um velho timoneiro envolto em tal procela
A vida não sossega e nada mais revela,

Findando sem partilha o sonho quieto e mudo,
Porém sem ter destino, eu vejo e já me iludo
O barco na tormenta exposto em frágil vela
Do quanto poderia a sorte dita a cela,

Teria outro caminho? Eu sei que mesmo em vão
Tentasse acreditar nas sortes que virão
Trazendo ou não a praia, a mansidão cobiça

Ainda quando seja apenas movediça;
Em solilóquio sigo expondo-me deveras
Aonde se veria a sorte em rudes feras...



SEGUNDO ATO


Mesmo cenário. É noite e a penumbra persiste.



Talvez meu nome importe, ainda mesmo assim
Encontro no caminho as marcas de onde vim
E sei que na verdade importam muito mais
De tanta cicatriz aos atos mais banais.

História tem começo, e aguardo agora o fim
Marcando em dissonância o que inda resta em mim.
Quem sabe percebendo o quanto tu me trais
Quebrando o que mais quis, inúteis meus cristais.

Durante esta incerteza aonde a vida rege
Transborda no meu peito o mar atroz e herege
Vestindo a solidão, quem sabe de tal forma

Ainda que sutil se veja esta reforma
Por vezes desejada e nunca concebida,
Mudando a dimensão fugaz da tosca vida.




Imerso no vazio aonde me criara
A solidão decerto há tanto já rondara
A casa em desencanto e o sonho prepotente
De quem não tendo nada, ainda quer e sente.

Ensina-me a pescar, mas sem ter isca ou vara
Apenas ao final a vida me prepara,
O sol de uma esperança adentrando o poente,
O fato de tentar ao menos, indigente,

Vestir a fantasia espúria da esperança,
Bufão que em noite vã, sem rumo ora se lança,
Depois de tanto tempo em busca de um sinal

Que possa permitir um novo ritual,
Encontro-me decerto em sorte vaga e fria
Matando o que inda resta ou mesmo poderia...





Depois de certo tempo imaginara a sorte
Diversa da que vejo envolta no vazio
E quando; sem saber, o mundo eu fantasio
Ainda que talvez o sonho me conforte,

Ao fim somente tenho o aspecto em dor e morte
Sem nada que pudesse ou mesmo a luz comporte,
Descendo inusitado em rude desvario,
A noite não traria as margens deste rio.

Amar é conceber ao menos num momento
A placidez do canto, a mansidão de um vento
Levando para frente o barco, o meu saveiro,

E neste delirar me entrego e vou inteiro.
Semente que abortada em solo não arável
Traduz realidade em sonho temerário...





Fortuna se apresenta em face mais diversa
Daquela que busquei aonde o sonho versa
Senão a rubra luta, a velha fantasia
Que tanto imaginei e sei que não teria.

O tempo com o tempo, aos poucos desconversa
E sei da vida tosca até rude e perversa
Matando em nascedouro a mera poesia
Que se produz do nada em clara autofagia.

O ser ou não poeta, o ser ou não feliz
Trazendo tão somente o que a vida desdiz
E gera em contra-senso este vazio na alma,

A bruma ronda a casa e a noite em gelidez
Expressa com certeza o quanto agora vês
E incrível que pareça, isto afinal me acalma...



,


Depois de cada ausência ou mesmo em tom austero
A vida temperando o quanto não mais quero
E vendo a cada queda a luta se perdendo
Num rústico cenário, espúrio e quase horrendo,

O fato de sentir o tom mais insincero
Transcende ao que pudera e nisto o que venero
Jamais se moldaria além de mero adendo,
E o traje em rota luz não passa de um remendo.

Assim também o amor, que tanto desejei,
Mudando a cada dia, expressa em torpe lei
O vago sem sentido algum de uma esperança

E quando no sombrio engodo ora me lança
Avança sem sentido, em tom diverso e rude
Falando do que sei amar quanto me ilude.





Meus olhos no horizonte estúpido ou funesto,
Dizendo da sombria estada aonde atesto
O fim de uma ilusão, mergulhos neste caos,
E sei dos dias vãos em rústicos degraus.

Do quanto imaginara apenas trago o resto
E bebo gole a gole o quanto já não presto,
Meus dias moldarão decerto rudes, maus
Anseios sem sentido ao naufragarem naus

E nada mais contendo além da espúria voz
De quem sonhara ouvir o dia logo após
Melindres mais sutis ou mesmo hipocrisia.

Daquela que se fez e bem mais poderia
Não fosse a prepotência em tétrica visão,
Deixando como rastro, apenas solidão.



Aos olhos de quem vê a cena repetida
Como se fosse o fim do que chamara vida
Não tendo mais saída, o beco se fechando
E nele o que se crê trazendo em ar infando

A luta sem proveito enquanto dilapida
A morte a cada instante eu vejo sendo urdida,
Deixando para trás o que pudera quando
A vida se diverge em paz se desenhando,

Porém ao se mostrar sutil e melindrosa
Cevando em espinheiro o que pensara rosa
Trazendo em sortilégio o verso mais atroz,

Calando pouco a pouco o brilho dentro em nós
Escuto como fosse a voz de quem se fora,
Uma alma sem juízo, apenas sonhadora...




Agradecendo aos Céus somente por poder
Vencer algum ditame e crer nalgum prazer
Ainda que isto seja a velha fantasia
Da vida em paz imensa e mesmo em sincronia,

Rondando pouco a pouco, adentrando o meu ser
O todo se permite e faz sobreviver
O vento da emoção que tanto se queria
Agora se perdendo em rara hipocrisia.

Das melodias vãs ao fim que programaste
A queda se anuncia e sei quando em desgaste
Já nada me trouxera além deste sombrio

Caminho em treva e dor, gerado pelo ocaso,
E vendo tal cenário, atento me defaso,
Porém sobreviver é mais que um desafio.





Fechando este caminho aonde eu tento além
Do que pudera sempre e sei que nada vem,
Vestindo a mesma luta e sendo de tal forma
A vida se mostrando enquanto não conforma

E traça tão somente o olhar com tal desdém
Enquanto continuo e sei que vou aquém
Do prazo que tentara apenas como norma
Vencido este andarilho e nele amor deforma.

O vento que batendo em fúria nos umbrais
Os sonhos mais sutis e neles desonrais
Palavras, versos, luz; e nada mais restara

Senão a solidão comum em tal seara
Charnecas dentro da alma; e a sorte não mais clama
Deixando como rastro; o lodo, a cruz e a lama.




Cessasse de sonhar, quem sabe, eu poderia
Trazer ao meu olhar a luz de um novo dia,
Ou mesmo em amaurose o passo sem sentido
O tanto quanto quero e mesmo dilapido

Transcende ao que virá em mera fantasia
E nisto o quanto vejo explode em agonia,
Nos ermos do caminho, ainda a vã libido
Procura inutilmente o rumo já perdido.

Esfacelando o sonho envolto nos retalhos
Os dias com certeza ainda serão falhos,
E a morte até redima o quanto me negou,

Deixando para trás quem sabe aonde vou
Enfrente temporais e creia noutro porto,
Melhor do que seguir, deveras, semimorto.


( relâmpagos e trovões, além do vento mais forte)



Sob o furor do vento em franca tempestade
O passo que inda possa o tempo já degrade
E deixe tão somente as velhas cicatrizes
E nelas o que vês e não mais contradizes

Expressam muito bem a dura realidade
De quem se fez aquém da amável claridade,
Em céus diversos vis, ou mesmo apenas grises
Os sonhos não trarão senão as hemoptises

Eviscerando a sorte em sórdidos remendos,
Os olhos sem porvir, os dias mais horrendos
Espectros de uma vida imersa em podridão,

Os dias que se vêm apenas mostrarão
O fim de cada verso inútil companheiro
No canto que se ouvindo, atroz e derradeiro.







Os olhos que venais procuram cada olhar
E nisto a sorte toma e marca este lugar
Apenas no sentido espúrio da emoção
Logrando melhor sorte em frágil dimensão,

Por vezes já cansado até mesmo lutar
Ainda poderia e nada a me tocar,
Mas quando no horizonte as noites que virão
Trarão a marca atroz da intensa solidão,

Jogado sobre o caos inusitadamente
O verso sem proveito, o quanto ora se ausente
Do mundo em sofrimento e nada mais se visse

Senão a luta agreste, ou mesmo em tal crendice
Vacante sensação do amor que nunca veio
Olhando para além em puro devaneio.





Monólogo que em dor desfio em poucos versos
Falando da incerteza em dias mais perversos,
Disperso sonhador em noite inusitada
Depois de certo tempo apenas trago o nada.

Criando em fantasia os vários universos
Bebendo os mais sutis caminhos que diversos
Trariam para mim, ao menos uma estrada
Aos poucos já perdida e turva e desolada.

Não quero compreender nem mesmo ouvir a voz
Daquela que se foi sem nada além e após
Deixando tão somente a marca da pantera

Incrustada em meu peito e sei quanto insincera
Moldara a face escusa e sem qualquer alento
Num ato tão venal enquanto desatento...





Ouvindo a noite intensa em ritos mais doridos
Os prazos que se vão, em rústicos sentidos
Das lágrimas desta alma há tanto sem proveito,
O quanto no final, em dor apenas deito,

Meus versos sem certeza apenas construídos
Nos atos duros vis, e neles consumidos
Seguindo de tal forma; atroz e contrafeito,
Pensara ser feliz qual fosse algum direito.

Negaceando a sorte e nada mais trazendo
Sabendo da verdade e nisto em tom horrendo
A sorte melindrosa em rústico cenário

Produz ao fim de tudo o mesmo e temerário
Caminho em tom mordaz ausência de sinal
Que inda pudesse crer num mundo mais igual.



Ao ter, reparem bem, a face em fartas cãs
Depois da noite rude; as vagas vozes vãs
Expressam a verdade e nada mais consigo
Sequer o que pudera ainda ser o abrigo,

Penetro vida adentro e sei destas manhãs
Aonde o que se fez em lutas tão malsãs
Traduzem com certeza o tom de tal perigo,
Restando dentro da alma o sonho mais antigo.

Meu passo eu cadencio e sei que não viria
Saber do quanto resta ao menos, poesia
E ver ao fim da festa a face mais atroz

De quem se fez verdugo e gera sobre nós
Apenas a influência agônica e insensata
Do que decerto traz a dor que nos maltrata...





Não posso partilhar uma amizade rude
Sequer o que talvez ainda nada mude
E mesmo que mudasse o tom seria vão,
Moldando em invernal a rude sensação

Do prazo que se dá e nada mais ilude
Senão a solidão da antiga magnitude
Do verso que decerto os dias não verão
Deixando no caminho a luta em solidão.

Batalhas, guerras. Medo e o fim se aproximando
O mundo se apresenta então bem mais nefando
Cortantes noites vãs e sem qualquer motivo

Do todo que desejo agora ora me privo
E visto esta mortalha, apenas, nada mais…
Enquanto se prepara além meus funerais.





Tanta melancolia e nada por fazer,
Somente a nebulosa expressão do querer
Jogada sobre o cais em meio às vis borrascas
Dos sonhos mais sutis não restam sequer lascas,

Ainda que eu pudesse ao menos merecer
Enfim depois da noite um belo amanhecer
As sortes são venais e delas meras cascas
Enquanto cada tiro, errática tu mascas.

Já não comportaria a sólida expressão
Do vento em minha casa, ou mesmo se verão
Cenários onde a festa apenas começara

Deixando em desespero a sórdida seara,
A morte me redime e nisto vida expressa
O quanto se queria e a dor só recomeça.




Durante tanto tempo uma alma se expressando
Nos tons diversamente aonde quis a paz,
Excêntrico caminho a vida não mais traz
Sabendo o quanto custa e nisto como e quando.

O tanto se redunda e nisto desabando
O coração pesando em rude contrabando
O verso sem sentido ou mesmo até fugaz
A luta sem defesa em nada se desfaz.

Perdoem a insistência e nada mais faria
Senão qualquer sorriso ainda hipocrisia
Ou pura estupidez; ou cupidez de um nada

Jogado nesta praia há tanto, desejada
E o vento sem limite, ao longe ainda espalha
Fazendo do meu sonho um campo de batalha.




( volta-se para a platéia)





Não posso oferecer a ti a minha sorte
E nisto talvez haja o quanto te conforte
Depois da negação em atos repetidos
Os sonhos do passado em nada refletidos,

O verso se adivinha e nisto bebo a sorte
No canto já jogado em dor que desconforte
Capaz de imaginar os erros resumidos
Nas tramas mais venais espúrias dos sentidos.

Encontro cada rastro e nisto sigo além
Do quanto poderia e sei que não convém
Vivendo em discordância, e nisto o que cobiço

Expressa este cenário incerto e movediço;
Tempestuosamente a vida não traria
Sequer o quanto quis em mera fantasia.





Se eu ouso te dizer do quanto quis e nada
Pudesse adivinhar além da velha estrada
Jogado sobre o vão em noites desiguais
Sabendo simplesmente a dor quando me trais;

Senhores; vejam bem, bandeira desfraldada
A senda sem sossego há tanto abandonada
E os ermos de meu peito em rudes rituais
Mostrando por acaso os erros mais venais.

Não tive melhor sorte e nada impediria
De crer até possível a vida em alegria,
Cicatrizando o corte o verso num sorriso,

Mas quando me percebo em gris tom me matizo
E faço do meu canto apenas um protesto
E cada dia em sonho; expresso o que contesto.





Difícil acreditar num tempo mais suave,
A vida a cada instante ainda toma e agrave
O rumo sem proveito imerso em tais procelas
Aonde sem saber apenas me revelas

Inútil se tentar somente como uma ave
Ousando o pensamento, espécie de uma nave
Vencendo escuro céu enquanto agora selas
As sortes em corcéis, porém já desatrelas.

-Ricardo- a vida traz uma esperança além
Do que deveras sinto e mesmo já provém
Uma alma sonhadora e nada em claridade,

Somente o que se busca e sinto ora degrade
Deixando como rastro as sombras do que um dia
Pudesse imaginar bem mais que uma utopia...


( retorna o olhar para a sala)



Das artes que buscara a poesia fora
Aquela que talvez pudesse desenhar
O rumo mais sutil e nele mergulhar
Esta alma sem proveito e tola, sonhadora.

A vida com certeza é mais que tentadora
E quando se imagina a luz mais redentora
As nuvens recobrindo as tramas do luar
Traduzem a verdade inteira a se mostrar.

Durante certo tempo, acreditei fortuna
E nada do que possa ainda em paz nos una
Senão a sensação espúria em desalento

Ainda quando mesmo após um rumo eu tento,
Negaceando o passo, a solidão se traz
E nisto o quanto resta expressa o tom mordaz.





A vida tão comum deste comum burguês
Que ainda em turva luz deveras sei que vês
Na sala carcomida, estas infiltrações
E nela a solidão enquanto ora me expões

Trazendo ao meu olhar a leda estupidez
E vez por outra mesmo, um ar de insensatez
Que impeça ao sonhador ao menos emoções
E nelas outro rumo e assim me decompões.

A chuva persistente invade noite afora
E o tanto que pudera apenas desancora
O barco e no naufrágio anunciada a morte

Negando o quanto eu quis, sonega algum aporte
Restando a quem se fez um mero expectador
Falar do que não sabe: as tramas deste amor.




O tempo carcomera os olhos mais brilhantes
E o quanto se quisera apenas por instantes
Deixando como marca opacidade imensa,
E quando na verdade uma alma se compensa

Apenas no vazio enquanto mal garantes
Os versos sem sentido e nisto me adiantes
O que pudera ser ainda a recompensa
Deixando a noite fria, ausente e mesmo tensa.

Cansado desta luta e nada por fazer
Somente perceber o tempo a percorrer
Os veios da saudade e neles me entranhando

Rumando sem sentido e apenas ruminando
O vento que não veio, a vida sem sentido,
Um gole de conhaque e o templo destruído...






Não quero que me escute e nem tampouco veja
A cena corriqueira e nela o que se almeja
Apenas a verdade e nisto o quanto resta
Não traz qualquer magia, a luz em leda fresta;

A sorte que se fez deveras malfazeja
Que tanto se reflita aonde quer que esteja
E assim do ledo fim, a vida ora me atesta
Deixando sem proveito a sorte que se empresta

Ocasionando a queda e nisto o que virá
Expressa tão somente o quanto e desde já
Legado de uma sombra atroz e costumeira,

Derrama o que inda tento e sei que além se esgueira
Fantoche de outro tempo, um eco do vazio,
Aonde quis a chuva encontro o mero estio...






Já não mais comportando o quanto pude crer
Depois de tanto tempo envolto em desprazer,
Amigos; vejam bem o que esta vida trama
Deixando tão somente o duro e mero drama,

Os velhos temporais, a vida aonde o ser
Esbarra no vazio e teima em conceber
Trazendo em cada olhar além do lodo e lama,
Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,

Resulto deste ocaso em vida sem proveito,
E o que vier decerto ainda mesmo aceito
Sem ter qualquer acento em luz ou esperança

E a noite dentro da alma enquanto rude avança
Encontra sem resposta o que inda mais eu quis,
Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.





Sentando nos sofás da sórdida lembrança
O que inda me restasse, aos poucos já me cansa
E a luta não termina e segue o seu destino,
Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,

O olhar de quem se foi qual fosse fria lança
Tocando dentro da alma, expressa sem pujança
O que pudera ser em vida o cristalino
Cenário onde buscara um tempo onde o domino.

Agora que esta sorte esbarra no vazio,
Seguindo em turbulência, apenas desvario,
Não pude ou poderia; amigos, com certeza

Vencer o quanto é rude e dura a correnteza
E quando me desnudo em vórtices atrozes
Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.






Depois de quase ter a sorte que buscara
Nas ânsias tão sutis da rústica seara,
O vento me levando além do que eu pudera
Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera

Empreende este caminho e rege noutra escara
O peso sob o sonho enquanto se escancara
A luta sem proveito e o tempo que se espera
Marcando em cicatriz a face da quimera

Depois de tanta perda, a vida não consola
E o quanto ainda tenho aos poucos não decola
Semente se abortando em árido jardim

O quanto mesmo quis agora morre em mim,
Negando algum momento em plena liberdade
E o que inda me traria, o tempo ora degrade.





Já vejo que se finda o tempo de existência
E de tal fato mesmo embora com ciência
Diversidade molda o fim sem benefícios
Apenas entre queda o quanto em precipícios

Mostrara o dia a dia em torpe penitência
Minha alma se desnuda e gera em consciência
Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios
Trazendo sem proveito os tétricos ofícios

E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo
E perco da esperança algum suave ensejo.
Minha alma agora traz no olhar a fantasia

Que em cena reproduz o quanto mais queria,
Embora me distando aos poucos deste todo,
O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.






Não quero acreditar sequer no que passasse
Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse,
Apresentando agora a vida de quem fez
Caminho sem sentido ou mera insensatez,

Transito no infinito e nada se tentasse
Gestando o que se visse em velha e rota face,
E melindrosamente, ainda quando crês
Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,

Encontrarás o sonho, aos poucos repartido.
E quando a minha história enfim eu dilapido
Arcando com engano e sei quanto é comum

Viver sem esperança ou mesmo tendo algum
Momento em consonância, estreita noite vã
Matando desde agora o quanto quis manhã.


cena 2 – mesmo cenário, olhando para a platéia com outro pijama mais puído que o anterior


Quando falo de amor. Vindo à cabeça Lara
Que há tanto já se foi e nada mais deixara
Somente este fastio e a turva noite eterna
Memória talvez seja ao fim turva lanterna

E dela se espalhando uma esperança rara
Domínios sem sentido e o corte desampara
Enquanto no sombrio a vida ora se interna
E bebo a solidão, por vezes sinto-a terna,

Mas nada além do sonho, as vozes se perdendo
Juntando o muito pouco encontro em tal remendo
As ânsias de quem fora um dia mais feliz

E agora já distante ausente do que eu quis
Esbarro em todo engano e nada se apresenta
Somente esta lembrança audaz, atroz, sangrenta...




Aonde houvera festa em noites claras... Sonho,
Apenas o fantasma enquanto decomponho
Anseios viscerais em versos sem sentido
E o pouco que me resta, ainda dilapido

Deixando-se antever um dia onde medonho
O passo se perdera e nisto o que proponho
Inválido momento e quanto mais urdido
Errático delírio, o corte resumido,

À bala ou num punhal, o tempo não permite,
Que com certeza eu diga o quanto em tal limite
Trouxera além do sangue exposto pela casa

O corpo lacerado, a vida não se embasa
No amor de quem traísse e mesmo assim viera
Trazendo num sorriso, a sarcástica fera.




Lara. Há quanto tempo. A vida não repete
O grande amor, portanto, aonde o vão reflete
Extasiada a mente em gozos e venturas
Depois de tanta dor, ainda em tais loucuras

O corpo apodrecido; envolvo e me compete
Falar desta fornalha imensa que complete
A solidão desta alma envolta em inseguras
Vontades mais venais enquanto me torturas.

E mesmo morta vens em noites turbulentas
Trazer o que pudera e sei nunca apascentas
Vestígios pela sala, a mancha no meu quarto,

E tenazmente traço enquanto mal comparto
Os últimos sinais daquela que se fez
O imenso e grande amor, enorme estupidez...





Há mais de um mês ou mesmo até quem sabe, um ano
A face desmedida e vaga deste plano
Sob as tábuas jogado o resto deste encanto,
E nisto o que inda possa e nisto eu me garanto

Traçar o desespero em ermo desengano
Do que restara enfim, do ser que fora humano
E agora em rude face expressa este quebranto
Quando medonhamente olhando em vão me espanto

Recebo por e-mail, a tétrica notícia
Que além de me envolver nas tramas da sevícia
Talvez me condenando ao que tanto busquei,

Deixando-me levar aos tribunais, à lei,
Cessando de uma vez o inverossímil caso
Tramando noutra face apenas meu ocaso.





Só resta muito pouco e nada mais faria,
Somente o que virá e sem hipocrisia
Entrego-me ao vazio e dele me propago
A morte talvez seja o derradeiro afago.

A imagem deste encanto, esta mulher esguia
O amor que tanto quis e enfim libertaria
Na pútrida expressão de um tempo rude e vago
No olhar já sem sentido o quanto agora trago

Dos erros de uma vida há tanto sem sentido,
E o corpo deste amor, agora apodrecido
Em tantas partes toma a casa por inteiro

O aroma nauseabundo, ainda onde me inteiro
Dos erros ou do acerto envolto em tais loucuras,
Deixando para sempre, as velhas amarguras.





Se um dia fui feliz? Bem sei do quanto o fui,
Porém tudo que um dia enorme ascende, rui,
E a queda se transforma em única lembrança
E quando a tempestade aos poucos nos alcança

Já nada do que tive agora toca e influi
Minha alma a cada instante em rota face pui,
E incrível que pareça, uma alma segue mansa
Condenação final; resiste em esperança

Deixando que termine esta agonia atroz
Amortalhado sono, a paz se vendo após
E o verme que caminha; envolto nos meus passos,

Depois de tanto engano, os sonhos são escassos
E apodrecendo ao fim, já nada reconheço
Somente o quanto vale a vida em adereço.





Restando quase um dia, ainda poderia
Fugir ou me esconder, porém uma alegria
Sem nexo e doentia adentra a minha mente
E o que virá redime o engano, plenamente,

O quanto me restasse em dor ou agonia,
Ou mesmo até no fim, numa imensa ironia
O passo que se desse e nisto se apresente
O fim somente em paz, de um ser tolo e doente

Tentando descansar, em alívio compondo
Ao quanto não restasse e nisto correspondo
Ao féretro de uma alma há muito apodrecida

Jogada pelos cais abandonando a vida
Encontrará enfim, a merecida paz
Que este verdugo, amor, já não fora capaz.






Chegada anunciada; há tanto que prevista
De quem me salvará, marcando enquanto avista
De Lara mero escombro ou restos pela casa
Ao redimir minha alma, acende fogo e brasa,

Não tendo mais martírio, o quanto aquém insista
O sangue como fosse a marca em clara pista.
Porém o que se quer e assim já se defasa
A cada instante mais, decerto ora se atrasa.

Minutos, horas. Tempo. E nada do que possa
Determinar enfim, a salvadora fossa
E nela este vazio, o desapego e o caos,

Olhando para trás, percebo tais degraus
E neles a emoção diversa e mesmo rude,
De quem a cada instante apenas desilude.

Cena 3 mesmo cenário, porém mais claro e o personagem deitado sobre o sofá.





A noite ultrapassada e ao fim nova manhã
A luta se refaz na face mais malsã
Do pálido cenário em brumas repetindo,
O quanto imaginasse, enfim silente e findo,

Porém a vida traz a sorte amarga e vã
E nada do que tento expressa a voz do clã
Deixada no passado em ato refletindo
O todo sem sentido e o tempo se abstraindo,

Talvez algum engano, ou mesmo um incidente
Espero mais um pouco? O quanto se apresente
Traduz desta maneira a sombra do que venha

E a liberdade da alma, enfim possa e contenha,
Sabendo de tal fato, aguardo um pouco mais?
Ou bebo sem cansaço, os rudes vendavais?






Já não mais comportando o quanto pude crer
Depois de tanto tempo envolto em desprazer,
Amigos; vejam bem o que esta vida trama
Deixando tão somente o duro e mero drama,

Os velhos temporais, a vida aonde o ser
Esbarra no vazio e teima em conceber
Trazendo em cada olhar além do lodo e lama,
Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,

Resulto deste ocaso em vida sem proveito,
E o que vier decerto ainda mesmo aceito
Sem ter qualquer acento em luz ou esperança

E a noite dentro da alma enquanto rude avança
Encontra sem resposta o que inda mais eu quis,
Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.






Sentando nos sofás da sórdida lembrança
O que inda me restasse, aos poucos já me cansa
E a luta não termina e segue o seu destino,
Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,

O olhar de quem se foi qual fosse fria lança
Tocando dentro da alma, expressa sem pujança
O que pudera ser em vida o cristalino
Cenário onde buscara um tempo onde o domino.

Agora que esta sorte esbarra no vazio,
Seguindo em turbulência, apenas desvario,
Não pude ou poderia; amigos, com certeza

Vencer o quanto é rude e dura a correnteza
E quando me desnudo em vórtices atrozes
Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.






Depois de quase ter a sorte que buscara
Nas ânsias tão sutis da rústica seara,
O vento me levando além do que eu pudera
Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera

Empreende este caminho e rege noutra escara
O peso sob o sonho enquanto se escancara
A luta sem proveito e o tempo que se espera
Marcando em cicatriz a face da quimera

Depois de tanta perda, a vida não consola
E o quanto ainda tenho aos poucos não decola
Semente se abortando em árido jardim

O quanto mesmo quis agora morre em mim,
Negando algum momento em plena liberdade
E o que inda me traria, o tempo ora degrade.





Já vejo que se finda o tempo de existência
E de tal fato mesmo embora com ciência
Diversidade molda o fim sem benefícios
Apenas entre queda o quanto em precipícios

Mostrara o dia a dia em torpe penitência
Minha alma se desnuda e gera em consciência
Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios
Trazendo sem proveito os tétricos ofícios

E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo
E perco da esperança algum suave ensejo.
Minha alma agora traz no olhar a fantasia

Que em cena reproduz o quanto mais queria,
Embora me distando aos poucos deste todo,
O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.






Não quero acreditar sequer no que passasse
Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse,
Apresentando agora a vida de quem fez
Caminho sem sentido ou mera insensatez,

Transito no infinito e nada se tentasse
Gestando o que se visse em velha e rota face,
E melindrosamente, ainda quando crês
Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,

Encontrarás o sonho, aos poucos repartido.
E quando a minha história enfim eu dilapido
Arcando com engano e sei quanto é comum

Viver sem esperança ou mesmo tendo algum
Momento em consonância, estreita noite vã
Matando desde agora o quanto quis manhã.




Tentando algum contato, algo que me explicasse
Vencendo com firmeza o que se fez impasse,
Depois de tanto sonho, aonde visse a paz,
Já nada me responde enquanto a vida traz

Retalhos deste fato e nele se moldasse
A solidão em vaga e rude, mera face
Trazendo o que se quer em forma mais tenaz
Cerzindo do vazio o fim que satisfaz,

Mas nada, nem resposta. E tento o telefone,
Já não suportaria a nova noite insone
Terminando esta peça, ao menos poderia

Viver tranquilamente o quanto inda teria;
Só restando esperar? O que possa fazer?
Ó Lara, não torture; eu fiz por merecer?


( impaciente)




Procuro nos jornais. Ligo a televisão.
E nada do que eu busco encontro. O tempo é vão…
Dois dias, ledo atraso, um delírio se assoma
E o quanto ainda resta? O pânico me toma.

A voz deste passado, a luta, a imprevisão,
E quanto poderia e quantos mostrarão
O que deveras sei; e o coração não doma
E como num torpor e como em vivo coma

A vida se perdendo em rumos discordantes
E nada do que possa ainda me garantes
Somente a dor cruel do condenado à morte

Que busca sem sentido algo que inda o conforte,
Uma semana e; nada. O telefone mudo
E a cada nova ausência, apenas desiludo...






Em desespero escuto os passos pelas ruas
Esta incerteza torna as sendas bem mais nuas
As luas já se vão, e os sóis se arremessando
Num ermo aonde o sonho explode mais nefando,

Angustiadamente as noites seguem cruas
Semana após semana, agora já são duas,
E o cômodo caminho aos poucos se afastando,
Embora no verão, eu sinto-me nevando

Procuro uma resposta e nada se apresenta
Somente este silêncio, a sorte mais sangrenta,
O telefone toca. Engano e novamente

Um ermo se anuncia enquanto não se sente
Sequer o que acalente ou mesmo me condene,
E nesta paz atroz o quanto me envenene...


Cena 4 – ansiosamente sentado no sofá, a face totalmente transfigurada com os cabelos em desalinho.





Um mês e nada além do caos dentro do peito,
Tentando descansar, inutilmente deito,
O pesadelo ronda e toma cada instante
Enquanto febrilmente a morte se agigante.

E Lara? E seu contato? A vida sem direito,
Mudando a direção encharcando o meu leito
A voz do vento ronda e torna mais cortante
A ausência de futuro o nada doravante...

Tortura deste impune, um verme sem saída,
Deixado sempre ao léu, na opaca e rude vida
Mergulho na loucura e bebo cada gota,

Minha alma se perdendo, aos poucos bem mais rota
Silenciosamente, o tempo se prepara
Tomando sem defesa a imensidão de Lara.





Um único detalhe; ainda não desvendo,
O que se fez audaz, agora em vão remendo
Expressa a face escusa e torpe de um canalha
Enquanto a ventania, além o sonho espalha,

E quanto mais no nada eu sinto me envolvendo
O rústico fantasma aos poucos me bebendo
No fio mais agudo e tosco da navalha
A própria resistência expressa esta batalha.

Um peso sobre mim e o todo se anuncia
Qual fosse do destino, apenas ironia,
E a morte que redima, agora já não veio,

O olhar se perde ao longe em louco devaneio
As garras adentrando o que inda resta em mim,
Preparam num sorriso estúpido meu fim.



( som de telefone chamando )




E quando desistira após tanto não ser
Escuto o telefone, e quando ao atender
Na madrugada fria imerso em nuvem tanta
A sorte se anuncia e assim chega e quebranta

Matando uma esperança e nisto posso ver
O mundo que buscara, enfim se esvaecer.
De Lara reconheço a voz que não espanta
Apenas me tortura, e quando se levanta

Numa expressão feroz, e irônica detalha
A morte de quem tanto um dia sem ter falha
Viria redimir, o coração atroz,

Cessando em acidente, a derradeira voz.
E a paz que procurava aos poucos se esvaia
Deixando como rastro, apenas a agonia.








Procuro alguma chance e encontro o derradeiro
Alento nesta bala em tiro que certeiro
(puxa um revólver e mirando a cabeça, dispara um tiro)
Trazendo em suicídio a paz que procurei
Fazendo em minhas mãos, a dura e régia lei.

Um único momento, e o prazo onde me inteiro
Sem farsa e sem disfarce, enfim um verdadeiro
Caminho que me leve ao quanto eu esperei
Trazendo finalmente esta esperada grei,

E nela o que se veja em paz ou mesmo inferno,
Melhor do que o vazio aonde ora me interno
E extremamente sinto o fim se aproximando,

No prazo decorrido, o tempo desde quando
Momento crucial, e redentor viria
Tramando além do vão um tempo em alegria...




Cena 5 deitado num leito de hospital, não fala nada, mas se escuta claramente a sua voz.


Maldita seja a vida. A bala em direção
Diversa da que eu quis, leda transformação
Não me trazendo além do quanto desconforte
Negando sem proveito o que buscara: a morte.

Jogado neste quarto, ausente solução
Apenas percebendo a tétrica ilusão
E apenas se vislumbra o imenso e frio corte
Traqueostomia traz da vida o frio aporte,

E Lara gargalhando, em volta deste leito,
Imagem sem sentido; espúria, onde refeito
Não sinto agora nada, e não me movimento,

Somente vejo além o corvo que crocita
E bebe cada gota em dor quase infinita
E enquanto ora eu definho, enfim eu me atormento.




Vingança? Não sei bem. Apenas a mereço
E sei do que pudesse em tétrico adereço
Tentando o fim do jogo e nada conseguindo,
A vida se desenha enquanto me esvaindo

Aos poucos tento a sorte e nada mais esqueço
Somente o tempo passa, e sei de outro tropeço
O que pudera ser, um dia quase infindo,
Expressa tão somente o corpo se abstraindo

Desta alma apodrecida uma carcaça apenas,
E sei do quanto mesmo agora me condenas,
E tento algum sorriso, espúrio lenitivo

E embora sem sentido, ainda sobrevivo
E toda noite Lara, aproxima num sonho
E a vida que eu tivera; em dor a recomponho.




Tentando então falar, já ninguém ouviria
A sombra deste espectro em vasta hipocrisia
Rondando sem sentido algum o que virá
Matando lentamente o que inda me trará.

Imóvel, respirando a pútrida agonia
E nisto o que se vê jamais se esqueceria,
Ao longe no passado, a sala, o meu sofá
A morte redentora, eu sei demorará;

E amor, chamado Lara ainda me tortura
Na consciência plena estúpida amargura,
Sem rastros de esperança e sem talvez sequer

O quanto poderia e quando não vier
Deixando no passado a sombra de uma vida,
Há tanto sem proveito, há tanto consumida.


Um ano e a mesma cena; o silêncio do nada
O corvo toda noite e a vasta madrugada
Insone e sem saída, sem nexo em vão destino
E a cada novo dia, eu sei que me alucino

Na espera desta morte, há tanto abençoada
A imagem da mulher revive emoldurada
Nas telas do vazio aonde em desatino
Encontro o meu retrato exposto e me amofino,

Abutre rapineiro, eu preso em penedia,
Repete a mesma cena, um dia após o dia
E nisto me arrastando em busca sem proveito,

Jogado simplesmente, apodreço no leito,
E o quanto da mortalha, a vida prometeu
Só faz deste canalha, um novo Prometeu!


FECHA-SE O PANO

FIM DO SEGUNDO ATO E DA PEÇA.

Wednesday, March 2, 2011

Faço versos como quem
Ao parir o sentimento
Traz no sonho que fomento
A vontade sem desdém
Do que tanto o tempo tem
E se faz no pensamento
Muito além de algum momento
Ou deveras já contém
O infinito de um alento
Sopro forte da esperança
Que pudera ao sofrimento
Trazer tanto o quanto avança
Penetrando sem temor
Onde brilho o raro amor
Navegando contra as ondas
Mais bravias do oceano
Quando enfim perco e me dano
Inda mais que me respondas
Tantas sortes onde escondas
O que fosse soberano
Caminhando sem engano
Onde quer que não mais sondas
A vontade sem proveito
O momento aonde aceito
O que tanto mais queria
Bebo assim a fantasia
Em cenários discrepantes
E deveras me garantes
O que tento ou poderia,
Não sei nada sobre a vida
E tampouco quero crer
Neste amor sem bem querer
Sem caminho e sem saída
E o que tanto dilapida
O meu verso a se perder
Adentrando inteiro o ser
Na verdade sempre acida,
Marca o tom desta ferida
Que chagásica domina
Procurando a cristalina
Expressão mal resumida
Do que tanto me fascina
E traduz a luz perdida;
Noite afora sem estrelas
Incertezas me competem
Outros erros se repetem
Mesmo quando possa vê-las
Espalhadas pelos céus
Onde os tempos trazem sonhos
Tantas vezes mais risonhos
Recobrindo, claros véus
Como antigos carrosséis
Pensamentos e quereres
Vagam e sem perceberes
Queres mais que sonhos, méis
E blindando após a queda
O que tanto se perdera
No caminho concebera
O que a vida nos enreda
Gerações em raros brilhos
Olhos tristes, maltrapilhos
E a vontade de seguir
Ultrapassa qualquer medo
Quando amor, em ti, tão cedo
Aprendera algum porvir.

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Nos comboios da esperança
Faço a lança que adentrando
Este brando coração
Entre o não e o sim restara
Mais que a clara fantasia
Onde o dia bebe a sorte
Traça o norte sem proveito
E se deito noutro anseio
O que veio me permite
Sem palpite ou comoção
Na noção que não tivera
Desta fera imprescindível
Doutro nível da emoção
Dimensão diversa tem
Sigo aquém do quanto quis
Ser feliz sem ter amor?
Noutra flor ou primavera
Esta espera sem sentido,
Resumido em ledo estio
Se inda crio fantasias
Novos dias me trouxeste
Numa agreste noite espúria,
Tanta incúria em temporal
Bebo o sal da solidão
Entro em vão o que seguira
Na mentira de outro engodo
Deste todo nada resta
Mera fresta onde se esconde
Perco o bonde e volto ao zero,
Onde espero a remissão...


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Nada mais trouxe alegria
Dia a dia tempo atroz
Ouço a voz que não viria
Onde a sorte é mais feroz
Nesta foz da solidão
Outro não e o tempo passa
Nesta escassa noite audaz
Tanto faz ou não pudera
Nova espera, a primavera
Se perdendo nada traz.
Perco o tempo, a vida e o sonho
E componho o que proponho
Sem sentido ou mesmo nexo,
Olho as formas mais temíveis
Da esperança em raros níveis
No que tange este reflexo.
Minha amiga, a vida é boa
E acenando quando ecoa
Gera o canto em consonância
Perco o rumo e sem saber
Onde existe algum prazer
Ou talvez, amanhecer
Nas espreitas de outra sorte,
E se fosse em concordância
A verdade que conforte,
Procurando um novo norte
Tendo em ti a doce estância.
Vento bate na janela
Nos chamando para a vida
O que tange sem ferida
Outro tempo se revela.
Na amizade ou num amor
Sem falseta e sem temor
Muito além da mera queda
O meu passo se anuncia
Quando a vida prenuncia
Onde quer e a sorte enreda,
Venço os erros do passado
Ou decerto enviesado
Aprendendo a caminhar
Bebo a boca da saudade
No valor desta amizade
Que permita o bem sonhar...


-------------------------------------



Quem me dera ser poeta
E em palavras descrever
O que possa o bem querer
Quando a vida se completa
Ao tomar a sorte, a seta
A vontade de te ver
No que tento possa crer
E viesse em voz dileta
Mergulhando em tal magia
Sem temor do que virá
Ou sabendo desde já
O que tanto poderia
Na verdade não traria
Meu caminho em claridade
Quando a sorte vem e invade
Gera o tempo sem temor,
E vivendo o raro amor
Sem vergonhas ou pudores
Onde quer que vás e fores
Sentirás jardins e flores
Nos anseios de quem ama,
A verdade se desnuda
E transgride enquanto muda
Reativa a rara chama...

--------------------------------------------------


Meu amigo Marco Aurélio
Minas volta de repente
E o caminho se apresente
Ao olhar de um peito velho
Já cansado da batalha
De tentar em poesia
Espalhar o que traria
E decerto sempre falha,
Nada tenho da esperança
E somente esta saudade
Que inda teima enquanto invade,
Mesmo assim queda ou balança
Avançando sobre o canto
Das gerais em Mil tons belos
E se tento meus castelos
Sei apenas desencanto,
Volto aos trilhos que do império
Traduzissem tal mistério
Do saber sem se falar,
Nada resta do que fui,
O meu mundo não reflui
Nem retorna ao que desejo,
Quando especular cenário
Meramente imaginário
Dentro de minha alma eu vejo.
Dos tropeiros da esperança
Da verdade que me alcança
E me traga sem ter pena,
O que vivo no presente
O futuro que apresente
Tão somente me condena...


----------------------------------------




Coração de um repentista
Sem juízo, apaixonado
Vai pesando assim do lado
Tanto quanto até despista,
Mas no fundo não resista
E se lembro do passado
Do meu sonho apascentado
Nos anseios da otimista
Sensação do amor eterno
Onde pouco diz do tanto
Vou vivendo o raro encanto
Quando em ti, o amor interno,
Sendo a vida um velho inferno
Sem proveito e só cansaço
Quando a ti querida eu laço
O meu mundo sem descanso
Vou seguindo e sempre avanço
Sem temor do que virá
E sangrando desde já
Nada mais me segurasse
A não ser a velha face
Que deveras lembrará
Desta vida sem tormento
Do momento mais sutil
Onde tudo o que se viu
Gera apenas tal fomento,
Ponteando esta viola
Noite bela enluarada
A mulher numa sacada
A saudade me consola,
Vou sentindo este bafio
Da emoção que já não veio,
Mas decerto em devaneio
Outro amor, imenso, eu crio...


---------------------------------------------

No teu corpo esta nudez
Que fascina a quem deseja
Muito mais do que se fez
Noutro encanto sem limite
Quanto mais já se acredite
Nesta rara insensatez
A verdade onde tu crês
Sem saber que necessite
Do caminho aonde o todo
Vence a lama, adentra o lodo
E deveras tanto almeja
Soluções em tom diverso
Traço a linha deste verso
Quando imerso nos teus braços
E sabendo ter ali
Todo amor que concebi
Adentrando em firmes passos...


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Esperança em teimosia
Não se cansa de buscar
Onde possa ora ancorar
Nas entranhas: poesia
Tanto mais que se queria
De uma vida a desnudar
Dentro da alma este luar
Em formato de alegria,
A verdade não existe
E se existe que se dane,
Coração que dando pane
Deixa a sorte bem mais triste,
Mas a vida tem certeza
Da vitória que virá.
Otimismo? Seja lá
O que vença a correnteza
E não deixe ser a presa
Quem deveras procurava
Entre a sorte dura e brava
Outro corte sobre a mesa,
No final já se degrade
O que tanto desagrade
Rompa a grade e segue em frente
E deveras se apresente
Como em rara claridade
O que possa na verdade
Irromper qualquer saudade
Renascendo a liberdade
Nos anseios da amizade.

-----------------------------------------------------


A doçura que persiste
Neste aroma incomparável
De um amor incontrolável
Mesmo quando a vida é triste,
E sentindo a bela flor
Espalhando a primavera
Onde o tanto que se espera
Traduzisse o raro amor,
No caminho a se compor
Sem temor, em clara esfera
Minha vida se tempera
Nos anseios em louvor,
Ao sentir o teu perfume
Flor tão bela da esperança
Minha mão em sonho avança
Ao teu passo sempre rume,
E bebendo em tua boca
Esta sensação divina
Que deveras me alucina
Vida breve intensa e louca
Gera além do sentimento
Expressão onde eu fomento
A vontade inesgotável
Deste tanto imaginável
Muito além de algum momento...

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Tuesday, March 1, 2011

ESPELHO DOS SONHOS



Quero ser o olhar refletido
No espelho dos seus sonhos
Como uma lente de refração
Que intersecciona esferas
Dispostas no mesmo plano,
Visão de um desejo onírico,
Plano dos mais líricos
Que se encaixa em vértices,
Unindo o côncavo e o convexo,
Amor em ápice total!

**Flor Bela**

Num prisma mavioso
De alegria, sonho e gozo
Entremeiam-se delírios
Corpos nus, doces martírios
Em viagens sem limites.
Mesmo quando não permites
Onde eu possa ancorar
Vago além de algum luar
Cerco estrelas com as mãos
E tomando em sonhos sãos
Esperanças e promessas
Deste tanto que endereças
Aos anseios mais vorazes.
Quando vens e já me trazes
Seios, boca, coxas, pernas
As Vontades loucas, ternas
Em eterna dimensão
Nesta interseção de sonhos
Dias claros e risonhos
Preparando uma explosão!


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Quero o amor proibido
Dos recônditos da noite
Entre estrelas, lábios sonhos
E algum gole de conhaque.
Quero o gozo que incontido
Atravesse num pernoite
E se tanto te proponho
Em teu porto o barco atraque.
Vença as tantas tempestades
Ou deveras os fantasmas
Das loucuras entre os passos
Vida sempre sem juízo,
Sem temor ou no impreciso
Caminhar entre os rochedos
Percorrendo audazes dedos
Encontrando algum rocio.
Vendo em êxtase este olhar
Onde possa mergulhar
Neste azul incandescente.
Quero a nua maravilha
Onde o sonho avança e trilha
Sem perguntas nem porquês
Na explosão em consonância
Emprenhando esta esperança
Que também queres e crês.

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Da forma que se sente
O tanto que se quer
No rosto da mulher
Sequer o sonho ausente
E bebe plenamente
A sólida expressão
Da nova direção
Em rara dimensão
Dourando a vida, a mente.
Eu quero o ser que um dia
Em plena fantasia
Explode em alegria
E mesmo se viria
Não pude conceber
Nos versos mais audazes
E quando em versos trazes
O mundo ao bel prazer
Vencendo os meus anseios
Sentindo nos teus seios
Os veios para o auge,
Navego sem sentido
E bebo o que embebido
Nas luzes de teus olhos
Traduz meu horizonte.
Repasso o dia quando
Olhando assim de banda
A vida não desanda
Nem mesmo sonegando
O prazo que se finda
Aonde foste linda
E vago em sorte finda
O tempo sempre brando
Procuro, em sonho, ainda.
Mas quero com certeza
Vencer qualquer surpresa
Da vida atocaiada,
E tendo-te em lençóis
Aonde tu constróis
A velha barricada
Sem nexo, por acaso
Amor sem ter ocaso
Supera o ledo atraso
E molda a cada caso
A sorte desenhada...
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Dançando noite afora
Ao ritmo mais frenético
Do sonho sem ter rédeas
Nem medos, velhos pejos,
A vida não demora
Explode em tais desejos
Envolves o meu corpo
E a chama nos clamando
Trazendo vez em quando
Suspiros e gemidos
Envolvem os sentidos,
Aroma, tato, e ouvindo
A voz suave e mansa
Convite após a dança
Pra danação sem medo
Sem tédio e sem remédio
Enquanto a noite avança.
Olhando-te de perto
O encanto onde desperto
O todo que deserto
Na busca de um momento.
As mãos descendo audazes
Decote onde me trazes
Visões do firmamento,
No quanto eu me fomento
Sem nada a me conter,
Rodopiando em goles
De inebriante vinho
E quando tocas, boles
Nos seios eu me aninho.
E a noite continua
E nua sob a lua
Em mar imenso e claro,
As ondas nos lambendo
Salivas percorrendo
Portais do Paraíso…
Quem dera fosse assim
E o quanto vivo em mim
Transcende ao mais preciso
Cenário onde matizo
O ser feliz. Enfim...


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Eu quero o gozo absoluto da certeza
De um novo tempo que me traga além das velhas noites solitárias.
O encanto de poder saber do canto quantas vezes esquecido
Jogado pelos cantos de uma casa abandonada.
Dos becos sem saída
Da vida sem mais nexo
Anexo outro momento
E sorvo o sentimento
Enquanto tanto tento
Explodo noutro rumo
E quando vejo e assumo
A força que me trazes
E nela a vida em fases
Persiste contra a fúria
Da vaga incúria
E sem lamúria
Penetra a madrugada.
Vivendo sem sentido
O tempo resumido
No vago de uma espera
Gerando o quanto gera
Da sincera vontade.
E o tempo, a claridade
O passo, a leda idade,
O verso onde degrade
E o cais distante, ausente...
No néctar de teu corpo incandescente
O beijo sem limites
O amor onde permites
O quanto a sorte sente
E galga plenamente
Infinitos em ti...
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Ouvisse a voz do tempo
Falando da amizade
Que tanto desejaste
E nada mais sentiste
Nem mesmo o que persiste
Em triste sintonia,
Do verso sem sentido
Do dia resumido
No vazio que ora vês…
Buscasse além do impasse
A face mais sensata
Do quanto te arrebata
E bata na janela
Do encanto que revela
A vela em mar distante.
O preço a se pagar
Ausência e solidão
Momentos que verão
O vão deste alimento
Cevado em tal tormento
Sem nunca descansar.
Havendo em luz diversa
A sorte que inda versa
Aquém do que pudera
E sendo a vida fera
Espera tão somente
O quanto já desmente
E nega noutro instante,
Vestindo o que nos resta
Da luz em cada fresta
Abrindo em dor e medo
Somente este arremedo
Do manto descorado
Jogado sem sentido
Perdido nos umbrais
Do tempo em vendavais
Sem nunca ver, jamais
E quando aquém te esvais
Esperas outro passo
Sem nada aonde escasso
O traço dita o fim...
Falando da amizade?
Aonde se não vejo
Sequer qualquer ensejo
Expresso em luz e paz.
Quisesse mais audaz
A vida que se faz
Em velha e carcomida
Noção de solitária
Noturna e mesmo vária
Vontade de sentir
O aroma que não veio,
A lua sobre o seio
O tempo sem receio
E o canto em plenitude.
Aonde desilude
O barco perde a rota
E nada mais se nota
Senão novo naufrágio...


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Amor: veneno que inebria
Vicia e toma conta,
E quando a vida apronta
Matando a fantasia
O verso não teria
Sequer aonde aponta
A vida em faca e ponta
Fazendo já de conta
Do quanto se queria.
E nada mais tivesse
Além da vaga prece
Sem rumo e sem proveito
E quando só me deito
Espero alguma chance
Do sonho que se avance
E lance a lance alcance
O todo que ora anseio...

Amar e ter no olhar
Vontade de chegar
Aonde não pudera
Vencendo a tempestade
Gerada por saudade
Atroz, porém sincera.
Não deixo para trás
Sinais nem rastro ao menos
E bebo dos venenos
Do lábio imaginário
E neste itinerário
Amor dita o inventário
E toca a vida em frente,
Podendo, de repente,
Num ato sem juízo
Sorver deste improviso
Que tento sem cansaço
E mesmo quando o traço
Amor diz prejuízo.
No temporal da sorte
O quanto me conforte
Comporte norte e corte,
Mas sempre me alimenta
Da luz que a vida inventa
E traça no infinito
A luz que necessito
Ao menos pra sonhar.
Tramando onde encontrar
O rumo neste mar
Mudando a direção
Da ventania em velas
Diversas que revelas
O porto nos teus seios
Delírios sem receios
Nos veios mais audazes,
Moldando quando trazes
O tempo mais profano,
E quando em ti me dano
A dita baixa o pano
E enceno outra versão
Da mesma sensação
Ousada da paixão
Que tanto nos domina.
Mais uma? Quem o sabe...
Só sei que sempre cabe
Bem antes que se acabe
No sonho, etérea mina
Que tanto me fascina
E quando determina
O passo sem temor.
Vibrando em cada amor...


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Vontade de chegar
Das noites solitárias
Evasões quase diárias
De tempos sem lugar
E nada a divagar
Sangrando a cada verso
Aonde siga imerso
Nas tramas do lutar
Sem nunca descansar
Buscando te alcançar
Aonde quer que eu vá
Deixando para trás
O canto mais mordaz
Que a vida ainda traz
A quem sabe sonhar...
Meu verso sem destino
Amor em desatino
O corte onde alucino
A pino o sol da espera
Gerando noutra esfera
Estéril caminhada.
A força inusitada
A luta desenhada
E o tanto dita o nada
Sem sorte e sem sentido
Do norte resumido
Na fonte desenhada
Em campos mais diversos,
E o verso sem proveito
O mundo sem direito
Possessos em delírios
Amores noutro rumo,
Canto e desencanto
Percebo o que se quer
No olhar de quem vier
Marcando em mesmo tom
O amor em raro dom
No quanto o velho som
Dissesse do futuro.
Presumo o que inda tenho
E sei do quanto empenho
A vida não poupasse
E nisto atropelasse
Os erros do passado
Gerando lado a lado
O templo desenhando
No corpo da mulher
Que tanto ou nem sequer
Pudesse adivinhar...