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Saturday, June 10, 2006

ROTINA E DESESPERANÇA

Aquele dia não seria diferente dos outros, a vida vai em ondas como o mar. Vai e volta, ondula e, embora não se repita, sempre retorna para o local de onde veio. Da terra, da água, dos elementos todos, continente e conteúdo.
A mão cansada de tantas escritas, de tantas labutas, da força bruta e da esperança curta.
Capaz de fazer sol ou talvez de chover.
Chuva na alma é lágrima na certa. Mas é bom que limpa os olhos para poder ver melhor o novo dia.
Fantasias e ilusões se despedem da realidade, mas logo essa vem e desabam-se todos os castelos. A areia volta a ficar disforme e repete-se o mecanismo intrincado que leva do nada ao nada.
Dia comum, homem comum, com um sonho comum, como um outro qualquer.
Qual quer que seja a causa, os percalços cansam os pés descalços e machucam. Resultado: calçar de novo a bota. Embotam os pensamentos, mas nada mudaria.
Nada mudará.
A rotina que a retina absorve, conserva viva toda espreita, toda espera, mas nada.
Mais nada poderia transtornar mais do que a ausência. Nem a presença.
Ele agora tinha certeza de que ela fora embora. Embora a cama desfeita denunciasse a companhia.
Entre saudade e alívio, a opção era dupla, ou tripla, tripas expostas do relacionamento que se partira, extirpado, estripado, expulso de maneira comum, portanto sórdida.
Sabia que ela não o amava mais. Nem ele, tampouco. Nem a ela e nem a ele mesmo. A mesmice, mumificara o que ficara dos murmúrios de amor.
A meia idade, a meia luz, a meia vida, a meia esperança, as meias soltas ao lado da cama. Meio de vida de pobre, classe média, média com pão e manteiga. Vida pingada como o pingado do boteco, no teco-teco que nunca decola.
De cola firme, colada ao peito, calada no peito, na calada da noite.
O te quero nem mais nem tento, invento, no mesmo intento.
Preferia o tento a contento no mesmo canto sem encanto, desencanto.
Destilando o destino, ir embora.
Mas nada adiantaria, ele bem sabia que nada adiantaria.
O porto aberto, meia garrafa, o porto distante, a porta escancarada, aportando e portando a mesma sensação.
O vazio, o vão, o chão da casa, e o não repetido.
Vestiu a camisa, a brisa esfria e provoca a tosse. Nas troças da vida, as trocas e traças, estraçalhando os traços pretensos.
Na parede, um olhar sem sentido, o mesmo olhar perdido, denunciava que, realmente, aquela vida não seria diferente das outras, quanto mais o dia...

AMA SECA

Nunca gostei de cães, nunca. Sempre tive certa ojeriza a esses animais barulhentos, com suas manias absurdas, como arranhar a casa toda, sujar todos os ambientes, essas coisas...
Todos os cachorrinhos do mundo, em contrapartida, eram adotados por minha irmã, Andréa Cristina.
Deveria se chamar Francisca, tal a mania de trazer filhotes de animais para casa.
Lembro-me de pelo menos uns dez cães e outros tantos gatos. À noite, durante um belo par de noites, ninguém conseguia dormir direito com a sinfonia dos filhotes .
Andréa era cuidadosa e isso fazia com que a maioria sobrevivesse aos primeiros dias, crescendo amamentados pelas mãos carinhosas e meigas de Andréa.
Mãos cristinas, verdadeiramente cristinas.
Porém, depois de alguns dias, quando já estavam aptos à sobrevivência, misteriosamente desapareciam.
As “fugas” noturnas só nos foram esclarecidas depois de muito tempo, quando meu pai confessou ser o misterioso alforriador dos bichinhos.
Mas um dia, em Mirai, quando estávamos visitando nossa amada avó, fato que se repetia nas férias escolares ou nos feriados prolongados, Andréa abusou.
Àquela época, lá pelo final dos anos sessenta, ainda não havia essa conscientização com relação aos animais silvestres, portanto o estilingue ou atiradeira, era um dos brinquedos mais usados pelas crianças, além da espingarda de chumbinho.
Os ovos e pintinhos da casa da minha avó estavam desaparecendo, deixando marcas indeléveis da presença de algum “nefasto” visitante noturno.
O diagnóstico foi firmado e confirmado – Gambá.
Para quem não sabe, esse bichinho, além do hábito de comer ovo e pequenos pintinhos e frangos, tem a incontrolável obsessão por cachaça.
Gosta e gosta muito, bebe até cair e, depois disso, ali fica, rindo e satisfeito.
Feito isso, é só dar uma paulada na cabeça e a ninhada agradece.
Um belo dia, após terem sido executadas, com êxito absoluto, as táticas de guerra, meu tio anunciou a morte do fedorento animal.
Passados alguns instantes, eis que surge a minha irmã com uns cinco ou seis pequenos animais rosados nas mãos.
Não era gambá, era gamboa. E estava com uma ninhada dentro da bolsa.
O marsupial deixa o filhote na bolsa até completar o crescimento desses.
E, por sorte dos filhotinhos, isso estava para acontecer a qualquer momento quando houve a execução.
Pois bem, a franciscana Andréa, para assombro de todos e repugnância de alguns, menos do meu pai, resolveu adotar os bichinhos.
Esses cresceram e, desta vez, sem ajuda do abolicionista Marcos Coutinho Loures, deram vazão a seus instintos selvagem e fugiram, deixando minha irmã extremamente tristonha.
Ama-seca de gambá, primeira e última de que tenho notícia.

MENOSPREZO E TRAIÇÃO

O dia estava lindo, um sol maravilhoso num céu de brigadeiro.
O rio convidava a nadar e, como sempre fazia desde menina, ela resolveu ir até a prainha que se formava numa curva do rio, em sua fazenda.
Colocou seu biquíni e foi, aproveitando as férias escolares que se iniciavam naquele dezembro abrasador.
Sabia que, naquela hora, os meeiros e campeiros estavam trabalhando e, filha de coronel, ninguém ousaria perturbar o seu banho de sol.
Bastava uma palavra para que o pai resolvesse o problema do bisbilhoteiro.
Deliciosamente deitada, com aquela preguiça salutar e reconfortante, olhava a esmo, como que namorando a interminável corrente que trazia e levava as águas do rio, nesse suave escoar...
Lembrara-se de seu aniversário, maioridade atingida, agora era dona do nariz.
Aliás, sempre fora. Amazona aos doze anos, cavalgava maravilhosamente bem, com os lindos cabelos louros soltos, montada a pelo sobre o seu cavalo manga-larga. Bela cena que a memória do vilarejo fez questão de registrar no único foto da vila.
Dezoito anos, faculdade próxima, ano que vem vestibular. Medicina era o sonho, poderia fazer, o pai garantiria tudo.
Vida boa, liberdade.
Quando, ao longe, na estradinha de lavoura que cortava o morro mais próximo, sentiu um movimento estranho no bambuzal.
Reparando bem, percebeu que o movimento se repetira algumas vezes.
Pegou o binóculo e, para sua surpresa, reparara nos vultos de uns meninos, adolescentes e quase crianças lá no alto.
Pensou logo que estavam observando-a, presa da curiosidade e da sensualidade que aflora na adolescência.
Isso era o cúmulo. Ia dar o flagra nos meninos e entregá-los ao pai e que se danassem estes pestinhas.
Silenciosamente, se levantou e como se fora nadar, mergulhou no rio.
Exímia nadadora, sabia como fazer para surpreender os moleques.
Após ter nadado uns cem metros e sumido do campo visual dos meninos, voltou à margem e, subindo célere o morro, se preparava para repreender os safados.
Qual o quê, para sua surpresa não era nada do que imaginava.
Parada, quieta submissa, uma mulinha estava na estradinha.
Passiva, recebia os “carinhos” de um moleque de mais ou menos treze anos.
E, depois dele, uma fila se formara.
Cada um aguardando a sua vez...
Ao ver tal cena, sua ira redobrou e, tomando um pedaço de pau na mão, começou a espancar a esmo, todos os meninos, aleatoriamente.
Pior do que ser observada e desejada pelo bando dos moleques, era isso.
Quando viu os meninos desejando a mulinha, sentiu um enorme vazio no peito e uma terrível sensação de menosprezo e de traição!

PICOLÉ E PÉ FRIO

CASCAVEL - O pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, passou por um grande susto na madrugada deste sábado, no final do "Entrevista Coletiva", programa da TV Tarobá, em Cascavel. O motivo foi um incêndio num estúdio próximo onde ele estava, a transmissão foi interrompida antes do final. Ninguém ficou ferido, apesar do tumulto.
O incêndio começou no estúdio 21 e não atingiu as dependências onde Alckmin estava. A causa ainda não foi apurada. A energia foi cortada e houve um corre-corre das pessoas que queriam deixar rapidamente o prédio da televisão.
O pré-candidato saiu e foi levado para o aeroporto, partindo para São Paulo por volta da 1 hora da madrugada. O retorno já estava marcado antecipadamente para esse horário.
O único pedido que se ouvia no meio da confusão era o de calma. Mas todos que estavam no estúdio queriam sair o mais rápido possível. Caminhões do Corpo de Bombeiros foram chamados e o incêndio controlado depois que Alckmin já tinha ido embora.


Quando as coisas não dão certo, tudo parece contribuir para isso.
Logo agora que o candidato tucano disse que precisaria colocar lenha na fogueira para tentar incendiar a eleição, acontece isso.
Alckmin, depois de ter sido barrado no forró, agora incendeia literalmente os estúdios de um canal de televisão.
E olha que seu apelido é picolé de chuchu, algo bastante gélido para ter efeito tão devastador.
Além do que, pelo desenrolar dos últimos acontecimentos, já se espalha sua fama de pé-frio.
Imaginando a cena, tento transcrever para o papel, embora saiba o quanto que isso é difícil. Vamos a ela:
Repórter – Estamos aqui, direto de Cascavel com o candidato à Presidência da Republica, senhor Geraldo Alckmin. E aí Dr. Geraldo, o Sr. acha que as Copa do Mundo pode esfriar um pouco o calor da disputa eleitoral?
Candidato – Caros telespectadores acredito que se o Brasil não for campeão, a culpa deve ser investigada e, garanto que o fato do Presidente Cínico ter chamado o Ronaldo de gordo, pode ter um aspecto bastante negativo, podendo gerar uma insatisfação no elenco, o que pode causar a perda do Hexa, e isso será por culpa do Lula.
Repórter – O que o senhor achou da invasão do MLST ao Congresso?
Candidato – Isso mostra a ineficiência do Governo Federal e o clima de desgoverno criado pela impunidade, a partir do mensalão que demonstra o grau de corrupção desse Governo, o maior da história do Brasil.
Repórter – E sobre o PCC?
Candidato – Não sei do que o senhor está falando. Pergunte isso ao Lembo, afinal ele está lá para isso.
Repórter – É verdade que o senhor foi avisado de que haveria uma revolta e esse massacre do dia das mães?
Candidato – Eu não sei de nada, não vi, não ouvi, não sei de nada!
Repórter – E a respeito do desvio de dinheiro da Nossa Caixa para deputados da base aliada.
Candidato – O quê que eu tenho com isso? Isso é coisa do Palocci.
Repórter – Não, Governador, eu não estou falando da Caixa Econômica não, falo da Nossa Caixa de São Paulo.
Candidato – Ué, eu não sabia que São Paulo tem esse banco não, se desviaram é coisa do Maluf...
Repórter – E as roupas da dona LU?
Candidato – Isso é mentira da oposição! O que eu sei é que apareceram lá em casa uns trapos, que a mulher estava doando para um grupo de costureiras para fazer uma colcha de retalhos. Daí a dizer que eram roupa de costureiro caro, eu não sei. A moda muda a cada dia...
Repórter – E o fato do senhor ter sido barrado no baile?
Essa foi demais, a cabeça inchada, quente, já começando a se exasperar Alckmin responde;
- Me recuso a responder. Eu não tenho culpa do segurança ser analfabeto?
Nessas alturas do campeonato, o repórter anuncia preocupado.
- Não fique tão nervoso, Sr. Geraldo, estou sentindo um cheiro de alguma coisa queimando, e não é cheiro de chuchu cozido não.
Irritado, Alckmin ameaça encerrar a entrevista, quando se ouve o corre corre.
Gente gritando para todos os lados e a fumaça espalhando no estúdio.
Nesse momento, a assessoria do candidato invade a cena e retira-o, mesmo sob os protestos do próprio candidato.
Afinal picolé e pé frio não precisa temer incêndio não. E, afinal, tucano voa, mesmo que não seja nas pesquisas, voa...

Friday, June 9, 2006

DA LUA VERMELHA E DA LUZ ESVERDEADA

Na noite fria, o vento passando pelas gretas da porta, assoviando como a tosse da mãe, dolorosa tosse.

A morte rondando a cidade, à bala e à fome, armas constantes apontadas sobre o morro.

Os irmãos, todos os nove, dormem abraçados e seminus. O cobertor não dá para todos, os menores sofrem mais, descobertos.

A irmã mais velha, barriga grande, esperando mais um para completar a dezena, mas desta vez outra geração será inaugurada.

Nova geração, miséria antiga, fome constante.

A garrafa de cachaça pela metade denuncia que o pai está em casa. Ainda bem.

O pai em casa, coisa rara, é sinal de comida amanhã.

O arroz e o feijão no prato, minguado prato do dia-a-dia, poderia com certeza estar acompanhado de algo mais, quem sabe um naco de carne ou de frango.

Vida dura, durando muito para quem mais teima que vive.

Barriga d’água, cheia das lombrigas de sempre, os cabelos amarelados pela fome, contrastando com as pernas finas, perebentas.

O cheiro podre de vala e de suor, misturados no único cômodo do barraco.

A porta parcialmente trancada, a tramela não adiantava mais.

A polícia, na última vez que viera nada encontrara, mas a porta não resistira.

Os pontapés assustaram, ninguém sabia dizer por que tinha que ser assim.

A mãe tuberculosa, a cada dia ia minguando. Remédio até que tomava, mas a comida pouca; amor de mãe é fogo, das parcas colheres, nada colhia. Alimentar os meninos.

A morte talvez resolvesse os problemas. Mas a luta era diária e o medo maior que tudo. Agora ia ser avó, precocemente envelhecida, os trinta anos batendo na porta. A filha de treze agora era duas.

A magreza dos meninos assustava.

Os meninos, ao revirar o lixo, muitas vezes se saciavam com as podres delícias.

Um dia, o mais velho encontrara um lote de iogurte vencido. Delicioso, coisa de rico.

Como poderia esperar algo, além disso?

Invejara, muitas vezes, os urubus. Esses tinham colheita certa e comida abundante.

Num local onde a morte é lugar comum; fartura de alimento somente para eles.

O rosto dos meninos, sem direção, sem nexo nem sentido, denunciava a luta voraz destes para chegar o dia seguinte, e assim por diante.

Ano passado, quase que o Mariozinho morreu. Não fossem as rezas da vizinha, adeus!

Comida, saúde, escola, essas coisas que todo mundo promete, ilusão.

A fome é cruel, muito cruel. Não se pode falar de fome se não a conhecer.

Não é essa fome de madame querendo emagrecer ou a ocasional, a de um dia, não.

A fome de uma vida, de uma vida após outra vida, nessa semi-morte que arrasta a todos para o lixão.

Outro dia, sem que ninguém soubesse por que, o dono do morro pediu a casa “emprestada” para esconder uns camaradas que vieram de outra favela. Fazer o quê?

Levaram o rádio de pilha e a televisão, últimos contatos com a vida no asfalto.

É difícil essa vida entre o bem e o mal, entre a polícia que quebra a porta e o traficante que leva a televisão.

Fazer o quê?

Voltar para Minas, uma boa idéia, mas cadê Minas?

A fome na roça também era terrível. Aqui pelo menos tem o lixão. A comida é mais farta, embora rala.

Sua mãe tivera quinze, sobraram quatro. Dos quatro era a mais velha.

Pelo que soube dos outros três, um estava preso, a menina caiu na vida e o outro enlouquecera, o sortudo.

A mãe morreu ano passado. Da velhice que carrega aos 50 depois de ter morado mais de 20 nas costas do cidadão.

Marido bom até que era, batia pouco, bebia muito.

De vez em quando sumia. Falam que tem outra, a velhice precoce a tornara feia.

A outra deveria ter a carne ainda dura, os peitos mais rijos e os dentes na boca.

Além de tudo, não devia estar tísica. Danada dessa tosse, dessa febre, o sangue espalhara no colchão tantas vezes que colorira de vermelho o amarelado do mijo das crianças.

Emagrecendo e se esvaindo, o frio daquela noite estava de lascar.

A tosse de Joãozinho estava denunciando que a tísica estava criando raízes no barracão.

Levar para o médico, marcar ficha, mês que vem se ainda estiver vivo ou se não tiver curado.

Curado?! Doce ilusão, mais fácil ter morrido que se curar.

Joãozinho, menino sempre foi fraco dos peitos, ao contrário da mais velha, peitos grandes para os treze anos. Agorinha mesmo mais um. Depois outro, outro... contagem mórbida, triste...

O silêncio da noite é interrompido pelas balas, balas e mais balas.

As balas de confeito estão nos sonhos dos meninos, a de aço perfura as paredes de zinco e de compensado. Barraco todo furado, chuva traz lama e goteiras. Vida complicada.

O marido está sobre ela, as pernas confundidas depois de uma noite de sexo. Coisa que foi boa, hoje suplício. É melhor que ele fique com a outra.

As costas doem muito e o prazer é impossível. Tem que fazer preventivo.

As doenças do mundo estão brigando por espaço pra poderem crescer no corpo miúdo. A mãe do corpo está toda sangrante, numa eterna regra.

De repente, percebe que as balas estão mais fortes que sempre.

Um barulho arromba a porta. O namorado da filha, menino ainda, entra na casa.

Transtornado pela cocaína e pelo álcool.

As balas se aproximam e procuram lugar macio. Barriga grávida, local macio. Fácil de entrar, penetram, abortando o futuro e o presente. De uma vez só.

Quem sabe foi melhor assim?

O companheiro se levanta e xingando o namorado da menina morta, empurra-o para a saída. Saída do barraco. Saída da vida, saída.

Mal sabe ele que não há mais saída.

Mas a teimosia, logo o dia nasce, o corpo sepultado, a teimosia sobrevive.

No céu, uma lua avermelhada a tudo assiste, e comovida abraça todo o barraco, inundando o barraco, a favela, a cidade e o país com uma estranha luz esverdeada e avermelhada.

Quem sabe essa seja a saída?

Uma lua vermelha, uma luz esverdeada e um brilho descomunal sobre tudo e sobre todos...

Sobre José de Paiva Loures

Uma das lembranças que tenho de meu pai é do apego que ele tinha pelas flores. Os espaços mais nobres do imenso quintal de nossa casa eram ocupados pelas mais diferentes espécies de roas, dálias, lírios, zínias, palmas, copos-de-leite, margaridas e outras, compondo um imenso jardim.
Todos os sábados, pela manhã, lá estava em nossa casa o sacristão da Igreja Matriz, recolhendo braçadas de flores para enfeitar o Altar do Senhor.
Naquele sábado em que meu pai desceu ao túmulo, o longo dia foi uma interminável sucessão de lamentos, até que a noite chuvosa se abateu sobre nossa dor e nosso cansaço...
Inúmeros parentes, vindos de muito longe, buscavam melhor acomodação, espalhados pelos quartos, salas e corredores de nossa casa.
Já era madrugada quando uma das minhas irmãs se levantou, queixando-se de forte dor de cabeça, provocada pelo perfume dos lírios que atravessava as venezianas e invadia o ambiente.
Uma a uma, as pessoas foram acordando e pudemos sentir, em plenitude, aquele perfume e, para aumentar a ventilação interna, apesar da chuva, abrimos as janelas. Tal fato mereceu de minha mãe, um comentário:
-“Que bom! Assim, quando amanhecer, poderemos levar muitas flores para ele!”
Assim, com as janelas entreabertas e suportando os respingos da chuva intermitente, voltamos a dormir.
Mal a claridade de um novo dia ia surgindo, minha mãe já estava na cozinha, preparando o café e, ao se lembrar do ocorrido pela madrugada, ela abriu a porta do quintal e foi procurar os lírios que deveriam estar enfeitando os canteiros.
Instantes depois, ela voltou e pediu que fôssemos também procurar as flores no quintal, ainda molhado pela chuva da madrugada.
Qual não foi nossa surpresa quando, ao vasculhar cada canto do imenso quintal, não encontramos uma flor sequer! Todas, absolutamente todas, haviam sido colhidas pelo fiel sacristão, no dia anterior...
Sem dúvida, para se despedir, meu pai havia deixado entre nós, o suave perfume de sua boníssima alma...

De Marcos Coutinho Loures, sobre José de Paiva Loures

DAS CAMPANHAS POLÍTICAS - COMO SE ABORTA UM SONHO

Jovem e apaixonado pela política, Fernando era um dos principais talentos de oratória do MDB muriaense e, disso muito se orgulhavam seus pais e parentes.

Aos 22 anos, era candidato à Câmara dos Vereadores e, com um discurso eloqüente conquistava, a cada dia, mais respeito e maior número de eleitores.

Seus discursos inflamados empolgavam a todos, levando muita gente ás lágrimas.

A sua verve política era de assombrar mesmo os mais antigos e experientes políticos.

Porém, um fato insólito, marcou sua estréia como político.

Muriaé, como uma cidade que vivia da Rio - Bahia e era freqüentada por muitos caminhoneiros, tinha uma das maiores e mais variadas Zonas Boêmias da região.

Famosa pelo tamanho, quantidade e qualidade de opções tinha, apesar de se localizar no centro da cidade, algumas características iguais a todos os bairros proletários desse país.

A polícia visitava bem mais a região do que a prefeitura. O sistema de saneamento básico era um horror. A iluminação pública, um descaso total, assim como a saúde dos moradores, abandonados.

Água potável? Nem pensar. Água de mina, se tanto.

Fernando, como bom e honesto ideólogo, tentava reverter esse quadro.

Pois bem, seu trabalho de dia a dia era um dos mais admiráveis, sempre em presença do Padre Jonas, velho “comunista” para o Governo, mas um excelente e coerente cristão.

Às vésperas da eleição, no seu último discurso, Fernando escolhera justamente essa região para fazer um comício.

Centenas de pessoas se aglomeravam para poder ouvi-lo.

Estava bonito de se ver, aquelas bandeirinhas do antigo MDB desfraldadas naquela região abandonada por todos.

Ao começar o seu discurso, Fernando fez uma comparação entre sua candidatura e outras, da famigerada Arena.

- Márcio, filho do dono da Fábrica de Tecidos o que é?

-Candidato dos empresários!

Os aplausos corriam à solta. Entre hurras e foguetes.

-Antonico, o fazendeiro mais rico da região é o quê?

- Candidato dos latifundiários.

Mais aplausos e mais foguetes.

Mas aí, aconteceu a tragédia!

-Eu, que nasci aqui no meio de vocês o que sou?

Aí um gaiato, mais que depressa deu a resposta que selou a candidatura fracassada do jovem Fernando:

- FILHO DA PUTA!!!!!

DA UPC E DO CONSERVADORISMO


A ditadura militar deixou sobre muitos brasileiros uma sensação de medo que, muitas vezes, se aproximava de um pavor incontrolável.

Dentre essas pessoas vitimizadas pelo pânico aparentemente sem motivação algum, estava Átila que, apesar do nome, era um dos mais medrosos dentre tantos iguais, na cidade de Ubá.

Ubá, cidade de mais ou menos cem mil habitantes na zona da Mata Mineira, é um dos principais pólos da indústria de móveis de Minas e, como toda cidade mineira que se preza, tinha na TFP uma de suas mais eficientes e castradoras entidades.

Nos idos dos anos 80, o ar que se respirava, para horror de Átila, trazia o prenúncio de liberdade.

O escravo adora e teme o chicote e, como não poderia fugir à regra, nosso amigo era um fervoroso defensor da ditadura militar, o que trazia, embutido, seu ódio contra tudo que “cheirasse” a manifestações contra o Estado Ditatorial.

Foi candidato, derrotado, à Câmara Municipal pela Arena, obviamente.

Quando soube das greves no interior paulista, amaldiçoou aquele “barbudo agitador”.

Expressava sua revolta para quem quisesse e tivesse paciência de ouvi-lo.

Quando houve a ANISTIA, exasperou-se ao ver o “temível” Leonel Brizola descer no Aeroporto do Rio e ser, cúmulo dos cúmulos, aplaudido por uma multidão.

É, esse país estava virando uma anarquia. Que saudades dos tempos de Médice e de Geisel. Aqueles homens é que eram de bem.

Um borra botas fujão como esse Leonel ser aplaudido, isso o revoltava sobremaneira.

Ao ver uma foto de Fernando Gabeira portando uma tanguinha de crochê, e sendo apontado como o “Muso do verão”, ficou exacerbado : “Como pode um comunista safado como esse, depois de ter matado muita gente no Araguaia aparecer agora com essa coisa de crochê? Isso é muita falta de vergonha! Isso é coisa de um homem usar?”

As eleições para Governador o assustaram mais ainda. Ao saber que o “fujão” se elegera Governador do Rio, quase teve um colapso.

Tancredo Neves, ainda vai lá, mas esse tal de Brizola não. Nunca.

Entre seus amigos, as discussões políticas sempre terminavam com suas máximas tipo : “Brasil, ame-o ou deixe-o”, entre outras cositas más.

Pois bem, com isso, seu círculo de amizades foi ficando restrito e quase que se resumia a Pedro Paulo.

Companheiro de sinuca e de “visitas às escondidas” à famosa casa da red light, ou da luz vermelha, se preferires.

Mas aquilo que vira naquele fatídico dia no BANCO DO BRASIL, logo num banco estatal, o deixou extremamente chateado.

Ao entrar no banco, lera UPC, a famosa Unidade Padrão de Capital que, para gáudio dos que assistiram a cena, transformou-se sob uma voz revoltadíssima na seguinte afirmativa:

“Esse é o cúmulo do absurdo, a que ponto chegamos, em pleno Banco do Brasil, fazer uma propaganda dessas; repare bem no que está escrito:

UPC – União dos Partidos Comunistas”...

DE ARAÚJOS - em homenagem a Hélio Valentim

Francisco, já apresentado aqui anteriormente, perpetuava-se no poder na pequena cidade mineira e ainda não tinha tido o prazer de voar de avião. E essa era uma das suas maiores frustrações.

Sabendo desse desejo, um de seus filhos resolveu presenteá-lo com uma viagem para São Paulo, num avião que sairia do Aeroporto Pio Canedo, fretado por alguns empresários locais, entre eles o filho de Francisco.

Toninho, esse era o nome do rebento amado, era dono de uma empresa de locação de automóveis em Muriaé para onde, segundo as más línguas, teria ido boa parte do dinheiro da saúde do pequeno município.

O Aeroporto de Muriaé, ainda se chamava Pio Canedo, sendo depois modificado para outro nome, segundo dizem, por causa de “favores” de um deputado federal a um conhecido Governador mineiro, por emprestar uns aviões, coisas assim.

Mas isso não interessa, pelo menos nessa história.

Voltemos a ela.

O Comandante Araújo, aposentado pela aviação comercial onde fora um dos mais brilhantes pilotos da CRUZEIRO DO SUL, já morta a essa época, estava em um dia muito especial.

Sua esposa tinha-o abandonado na véspera e, como a dor era muita, aquele vôo daria a ele uma espécie de consolo.

Velho comandante do ar, Araújo tinha por hábito, tentar conhecer seus passageiros.

Ao ver aquele senhor sexagenário sentado com outro amigo, no bar do Aeroporto, resolveu entabular conversa com o estranho.

Ao vê-lo, teve uma surpresa enorme quando foi chamado pelo nome.

-Araújo, como está você?

Ao que respondeu que tudo bem, etc e tal.

-O vôo vai ser tranqüilo né?

Claro que sim, e o papo evoluía.

Regado a uma garrafa de cachaça que se esvaziava rapidamente, consumida pelo senhor distinto que reconhecera Araújo.

Como a gente, nessa vida, muitas vezes conhece pessoas e a memória nos trai, nada mais natural que o cidadão ter reconhecido o velho aeronauta.

O tempo passava e a conversa extremamente agradável com aquele caipira bom de papo já se alongara muito quando Araújo a encerrou, avisando que iria decolar em pouco e que, o velho conhecido deveria parar de beber.

Fora muito boa a conversa e isso aliviara um pouco o peito sofrido do nosso amigo.

Voltemos a Francisco.

Assim que chegou, acompanhado de seu testa de ferro de sempre, Francisco estava extremamente tenso.

Ao perguntar o porquê, o seu acompanhante foi informado que aquela seria a primeira viagem de avião do político experiente.

Resolveram sentar no bar e tomar umas caninhas para “aliviar” a tensão.

Ao perceber que aquele senhor estava indo em direção ao bar e que esse portava uniforme sugestivo de que seria um Comandante; Francisco, prontamente, convidou-o para sentar.

Daí em diante se deu o diálogo que captamos no bar do aeroporto.

Ao ver tamanha “intimidade” entre Francisco e o Comandante, seu amigo o interrogou:

- “Seu” Francisco, mas o senhor é muito gozador mesmo hein!? Como o senhor me fala que nunca voou e tem tamanha intimidade com o Comandante?

-Que intimidade o quê! Nunca vi mais gordo!

- Como o senhor sabia do nome dele?

- Não sabia não, e esse não é o nome dele não seu burro!

-Como assim?

- O imbecil, se o homem que trabalha no mar é marujo, quem trabalha no ar é araújo, entendeu?

Para o Velho Lobo, nesse ano onde brilham as estrelas

Velho Lobo me surpreendeste.

Sei de teu amor pelo Botafogo, e isso me fez te admirar bastante, hoje ao saber de tua afirmação de que o 13 do PT é de bom pressagio, passo a te admirar mais ainda.

Pelo que significa essas duas estrelas tento, com humildade, te homenagear.




Nas alegrias do povo

Desse povo sofredor,

Ao nascer de um dia novo,

Onde prevaleça amor.

Nas esperanças de glória,

Na liberdade do sonho,

Em meus olhos, onde ponho

O brilho de nossa história.

De todos meus sentimentos,

Trago os meus pensamentos

Na procura de esperança,

São poucas essas lembranças

Que me trazem tão à vida

Das tristezas, despedida

Da vitória mais curtida

São poucas, vida sofrida

De um povo cuja memória,.

Muitas vezes se esfacela

Acostumado a uma cela

Sem ter por que sonhar.

Povo cujo maior grito

Sempre foi esse bendito

De tentar comemorar,

Em cada gol de verdade,

Traduzir dignidade

Em cada jogo de novo,

No que é o pio do povo;

Com sua simplicidade

Dentre tantos, de verdade,

És o único que ostenta

Esse orgulho de ser penta.

E por conhecer de estrelas,

E Mais que nenhum sabê-las,

Consegues bem demonstrar

De maneira bem concisa

Que nosso povo precisa

Algo além para orgulhar.

Da estrela botafoguense,

Bem sei que sempre que vence

Teu coração se convence

De que vale a pena lutar.

E nesse dois mil e seis,

Isso se fez repetir,

Trazendo belo porvir

Para estrelas no Brasil,

Pra esse povo varonil

Valoroso brasileiro,

Que possa, esse mundo inteiro

De novo nos conhecer

Povo feito pra vencer

Na chama dessa batalha

Que Deus, de novo nos valha

Em campos dessa Alemanha

Onde a estrela que se ganha,

Sexta, na constelação

Que pulsa com coração

No brilho de luz tamanha,

Capaz do mundo ofuscar

De tão forte esse brilhar.

Outra estrela que avermelha,

Tem também essa centelha

Com certeza brilhará.

Eu bem sei que trará sorte,

Para todos bem mais forte

Que o ocaso de outras paragens

Que desconhecem as vantagens;

Constelação popular

Que jamais irá parar

Que representa essa raça,

Em todos campos ou praça

Que tem cheiro de cachaça

Que traduz calor e graça;

Conquistando esse planeta

Mais uma estrela, um cometa

Estrela tão benfazeja

Que nossa terra já beija

Não desiste da peleja

Tanto luta, tanto almeja

Não teme nem dor nem morte

Estrela de grande porte

Tem o número da sorte!

Thursday, June 8, 2006

DE AMORES BUCÓLICOS DA DÉCADA DE 80, NO INTERIOR MINEIRO

Uma vez, nos idos dos anos 80, na minha Muriaé, um amigo meu, desses amigos que a infância traz e a maturidade esparsa passou por uma situação um tanto quanto vexatória.
A adolescência traz seus desejos, nem sempre saciados e, quando isso ocorre, muitas vezes a noite traz opções para suprir essa ausência de prazer.
Pois bem, esse meu amigo estava namorando uma menina evangélica e daquelas bem radicais para quem o sexo era uma coisa sagrada após o casamento e demoníaca antes desse.
Os dois, com seus dezoito anos de idade tinham visões diferentes da vida; ela ambicionava o casamento mais precoce possível, de preferência com um rapaz “honesto e trabalhador”; já esse meu amigo estava no primeiro período de Engenharia e a sua opção era por primeiro formar-se, depois se solidificar no mercado de trabalho para, depois, poder constituir família.
Essas disparidades levavam o romance a uma situação extremamente comum e antagônica. Beijos e carinhos até as dez horas da noite, depois namorada em casa e fim de noite com as meninas mais liberais ou, na ausência destas, o prostíbulo mais próximo ou mais acessível.
Meu amigo, como todo estudante, estava com pouco dinheiro e fizera tudo para não gastar nenhum centavo naquela noite de quinta feira.
Conseguira poupar todo o dinheiro à custa de uma “dor de garganta” improvisada que o impedira de tomar, ao menos um refrigerante.
Dez da noite, namorada entregue em casa, tudo certinho , como mandava o figurino...
Morava na direção destra da rua e o prostíbulo era na canhota. Parodiando Drummond, foi ser “gauche” na vida.
Péssima escolha, veremos mais tarde.
Mas, hormônios são hormônios e o sexo estava a toda tomando conta da cara espinhenta e dos delírios noturnos.
Ao adentrar o prostíbulo, encontrara a mais bela morena que poderia imaginar em tal local.
Conversa vai, conversa nem vem e cama!
Noite deliciosa, com uma bela morena do lado, foi o mais demorado possível para um jovem em tal situação.
Quinze minutos de delícias inesquecíveis.
“Ah amor, gostou?
Amei querida...
Quanto foi?
Vinte reais...”
Até que não fora caro não, a menina merecia bem mais e, pensando em quanto daria de “gorjeta” para a bela garota, teve uma surpresa...
Procura daqui, procura dali, e cadê o dinheiro?
Não é que, ao pegar a calça jeans azul, se confundira e vestira a blues jeans?
E agora? Inteiramente nu, sem dinheiro nenhum e essa situação crítica.
Ao argumentar com a “donzela”, essa lhe mostrou a outra face, ao invés da doçura inicial, o rosto se modificou. De repente, surge uma peixeira de mais ou menos dois palmos de comprimento e fio exemplar.
“Você vai, mas a roupa fica!”
E essa agora; “posso pegar a cueca?”
“Sem cueca. A roupa só depois de eu receber a grana!”
O que fazer? À distância para sua casa não era muita, mas teria que passar no centro da cidade e ainda eram onze horas da noite.
Pelado e sem bolso pra colocar as mãos, não teve outra escolha.
Para o cúmulo do azar, Pepeu, um cãozinho pequinês que pertencia a sua namorada estava acordado.
E bem acordado. Nunca maltrate os animais, isso, além de ser de uma maldade absurda, pode causar contratempos terríveis.
Durante uns dias, com raiva da namorada, por causa de uns dá não deu que o deixavam agoniado, resolveu descobrar sua frustração no pobre animal. Não é isso que você está pensando não, ouviu? Ele deu foi umas pauladas de “leve” no focinho do pobre cão que, ao perceber sua presença, resolveu latir a toda a fim de demonstrar sua indignação.
Indignada ficou a namorada que, ao abrir a janela, se deparou com um homem nu correndo , mas a tatuagem enorme nas costas denunciara o fujão.
Maldita tatuagem!
Ao chegar em casa, sua mãe o esperava sentada, fingindo assistir a um programa de televisão.
Ao ver o seu “pimpolho” com a cabeça do “pimpolho” exposta, deu um grito, acordando a casa toda, inclusive a irmã caçula, para seu azar. Foi motivos de intermináveis gozações de sua amada irmãzinha.
Explicações eram necessárias, mas o resgate se impunha mais urgente.
Pegou a calça com os vinte reais, e foi de retorno ao prostíbulo.
Mas, para sua surpresa, ao entrar na ante-sala, dá de cara com o sogro, à espera da mesma morena mas, creio que com condições para pagar o serviço executado.
Conversa vai, conversa vem; eis que, como do nada, aparece a namorada e a sogra, devidamente armadas com todos os argumentos para esculachar o pobre estudante.
Circo armado, a morena, ao ver tamanha balbúrdia, abre a porta e, com a peixeira já conhecida, ameaça a todos.
Meu amigo, aproveitando-se da confusão, entra no quarto da morena, pega a roupa e sai correndo em meio ao tumulto.
Resultado da confusão – um casamento e um namoro desfeito mas, mineiramente falando, pelo menos os vinte reais não foram gastos.
É, pensando bem, o prejuízo não foi tanto...

Da necessidade da formação de Partidos Políticos no Brasil

Uma coisa que me chama a atenção e muitas vezes é esquecida e a cada dia se observa de forma cabal, se relaciona com a ausência de partidos políticos no Brasil.
A nossa estrutura partidária é uma das piores e mais frágeis do mundo, com situações absurdas que irão se repetir nas próximas eleições.
Sou Botafoguense e me orgulho disto, embora o Botafogo tenha me trazidos raras alegrias e muitas tristezas. Mas sou botafoguense e dane-se o resto.
Sou católico por formação, mas sou católico e isso é problema meu, mesmo com os erros e acertos da Igreja católica, sou católico.
Em relação a isso, mais de noventa por cento dos brasileiros têm suas convicções que são praticamente imutáveis.
O norte americano ou é republicano ou conservador. O argentino ou é peronista ou anti-peronista; o uruguaio é colorado ou anti-colorado.
O inglês ou é conservador ou trabalhista; e por aí vai...
Sou Lulista e petista, mais Lulista que petista, tanto que não votarei no PT para o Senado e, talvez vote no PCdoB para a Assembléia Legislativa.
Estou falando de uma pessoa que gosta de participar e tem princípios ideológicos e políticos, militando há mais de 30 anos, direta ou indiretamente.
Nossas estruturas partidárias são totalmente incipientes, excetuando-se o PT e alas do PMDB, além dos partidos mais à esquerda como o PSTU, são pouquíssimos os que se podem dizer que PERTENCEM A TAL PARTIDO, afirmativa trocada por SOU FILIADO A TAL PARTIDO.
A filiação conota uma diferença muito grande com relação ao fato de PERTENCER, essa palavra demonstra uma interação e integração absoluta; mesmo na derrota ou nas fases de baixa, o que PERTENCE, normalmente está entranhado e o Filiado, desfilia, vai para outro partido e dane-se o resto.
Todo esse emaranhado causado pela verticalização e esse absoluto non sense de partidos de esquerda apoiando ou sendo apoiados pelos de direita, a luta de socialistas contra socialistas, apoiados ambos por neo liberais, gera o samba do político doido.
A guinada de Roberto Freire para a aliança entre a Usp e o Coronelismo demonstra que: ou o Bob Freire pirou de vez ou ele não entendeu nada ou nunca teve convicção política ou é mau caráter.
A base partidária é fundamental por ser visceral, o fato de termos um aumento na base petista é extremamente sugestiva de que, o partido é mais importante que os homens, assim como o Botafogo me é muito mais caro que qualquer jogador que tenha passado por lá, de Cremilson a Garrincha.
As cores partidárias no Brasil variam a cada eleição, causadas por uma espécie de político quase que exclusive do nosso país e inaceitável na maioria das democracias do universo: O político PROFISSIONAL.
Entender-se que Ronaldinho Gaúcho saia do Grêmio para o PSG e, depois, para o Barcelona é fácil. Mas compreender um paladino da Esquerda se associar ao Antonio Carlos Magalhães é dose para elefante!
Não vou deixar de falar dos políticos petistas; muitos decepcionaram o seu eleitorado; porém a militância petista não, essa continua firme com o partido, a exemplo dos conservadores americanos que “aturam” Bush ou mesmo dos católicos conscientes que “suportam” o Padre Antonio Maria.
O que ocorre nesta eleição é de uma limpidez e transparência que chega a ofuscar a visão dos que não querem ver e, por isso , muitas vezes pode instigar alguns.
Lula tem, entre petistas e lulistas, cerca de trinta por cento do eleitorado. Eleitorado fiel em todas as participações deste como candidato à Presidência da República, isso é ponto pacífico. Da mesma forma tem 30 por cento de rejeição, de pessoas que NUNCA VOTARAM E NEM VOTARIAM nele.
Assim como temos flamenguistas, temos antiflamenguistas ou anticorintianos. Isso denota a existência de um grupo que rejeita outro, normalmente com características mais definidas.
Os anti-lulistas têm várias facetas; desde a ultra esquerda ata a UDR reacionária.
O maior problema que vejo, não é somente o fato de Lula ter tido uma aceitação percentual praticamente igual a que o elegeu no segundo turno da eleição passada, estando dentro do percentual dos que acreditaram que ele era a esperança. Fato esse, estatisticamente confirmado como concretizado.
Além desse fato, temos a total inapetência e a falta de identidade dos anti-lula ou anti-petistas com nenhum candidato apresentado como alternativa a Luis Ignácio.
Geraldo Alckmin, me perdoem os paulistas, não ganha eleição para prefeito de Espera Feliz, tal a falta de atrativos que não tem e nem adianta tentar ter, isso é inerente.
Picolé de chuchu é um achado histórico de José Simão.
Cristovam Buarque é um arremedo de político, como político é um excelente professor e reitor; como reitor não tem o menor cacoete para a política.
Heloisa Helena é um caso à parte, pode acertar no atacado mas se perde no varejo; eu não conheço muitos homens que quereriam desfrutar de uma companhia como HH, isso sem ser machista.
É absurdamente chata com seus ataques histéricos em resposta a qualquer assunto que queira polemizar.
Agressividade excessiva é tão perniciosa quanto à apatia.
Um misto de Alckmin e HH talvez fosse algo, politicamente, tragável, mas isso são hipóteses.
Além disso, a falta de estrutura partidária no Brasil, na essência visceral da opção feita pelo eleitor, PERTENCENTE e não somente filiado a um determinado grupo, tal qual um torcedor de futebol, impede a formalização e a avaliação de uma realidade política brasileira.
O personalismo na política é danoso e isso se apresenta claro em quase todos os países onde ocorre. Mas essa herança advinda do profissionalismo e da falta de identidade partidária dos nossos políticos, inclusive com a falta de fidelidade partidária, mais cruel e deletéria para a política do que a falta de fidelidade nas relações amorosas; por ser extremamente danosa e imoral para com o eleitor; que tem todo o direito de se sentir traído, essa herança poderá ser modificada.
Poderá não, deverá; ao custo de não termos evoluído para a verdadeira democracia.
Se olharmos para os clubes de futebol, iremos aprender que, se um atleta contratado pelo Palmeiras, em pleno campeonato se transferir para o Corinthians, ainda mais de graça, será considerado, a vida toda como um traidor.
Mas, os políticos, inclusive os da esquerda , absurdamente em nome de uma “dignidade” que desconhecem, fazem a mesma coisa. E acreditam ficar impunes.
O descrédito que se abate sobre toda a classe política nacional tem, nesses imbecis, um dos grandes culpados.
Os outros são os interesses econômicos, os grupelhos políticos de um só senhor, sem ideologia; afora os partidos de “aluguel”; mas, nesse caso, estamos lidando com outro tipo de coisa : PROSTITUIÇÃO, e da pior espécie, a PROSTITUIÇÃO DAS CONSCIÊNCIAS.

Sobre os BANCOS E O CDC

"Os bancos não têm mais como fugir do Código de Defesa do Consumidor (CDC). O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem, por nove votos a dois, que as instituições financeiras terão de se submeter a essa legislação.

Caso um cliente se sinta lesado com uma cobrança indevida ou mau atendimento, por exemplo, e faça uma reclamação, os bancos poderão sofrer sanções com base no CDC. Para os órgãos de defesa do consumidor, a medida é um importante passo na consolidação das leis e concretiza um direito constitucional".


Essa medida pode-se dizer óbvia. Os bancos não podem ser tratados diferentemente de nenhuma instituição que lide com consumidores e, em última análise, os seus clientes são consumidores de vários produtos; não só o fato de serem depositários de dinheiro ou captadores.
O fato de termos uma legislação clara sobre as relações entre fornecedor e consumidor, amadurecida e solidificada nos PROCONs e no Código de Defesa do Consumidor, permite uma relação mais saudável entre as instituições financeiras e os clientes.
Da mesma forma que os Bancos têm suas maneiras de identificar e, embora por muitos considerada inconstitucional, discriminar a esses em relações extra-bancárias, até no fornecimento de linhas telefônicas, de compras a crédito, entre outras coisas do dia-a-dia, a justiça e o bom senso obrigam que tenha esse poder a dar a contrapartida para que as coisas andem com segurança e tranqüilidade.
Esdrúxula mesma a situação que vivemos; a de sermos, muitas vezes, vitimizados por aumentos de tarifas, cobranças extras etc. Ao mesmo tempo em que estamos de mãos atadas quando sofremos com os erros dessas instituições.
O fato de sermos apenas lembrados quando temos deveres e nunca quando temos os direitos é, de certa maneira, uma forma de ditadura econômica sobre os mais fracos.
Todas as vezes que temos uma situação que permita um processo contra uma entidade financeira, sabemos que a demora da aplicação das leis é enorme, para prejuízo de todos.
Espero que, com essas novas medidas, possam-se agilizar mais essas pendengas, trazendo maior sensação de justiça e de impunidade.

A DEFINIÇÃO CIENTÍFICA DOS TUCANOS É ESCLARECEDORA!

O tucano-toco ocorre nos dosséis das florestas tropicais da América do Sul, desde as Guianas até o norte da Argentina. No Brasil, ele é encontrado no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia.
O tucanoçu ou tucano-toco é a maior espécie de tucano (Ramphastídeos). Seu enorme bico de cores brilhantes parece pesado, entretanto é formado por uma estrutura óssea não maciça e areada que lembra um favo de mel. Isso torna o bico mais leve e portanto não dificulta o vôo. Apesar de não ser maciço, o bico é bastante resistente.
Este bico é a mais notável característica dos tucanos, útil para apanhar frutos em locais difíceis, descascá-los, intimidar outros animais, perfurar madeira, sondar a lama e impressionar as fêmeas; o bico também é utilizado para jogar frutos um nos outros, durante o ritual de acasalamento. As garras são outra característica do animal; é constituída por dois dedos dianteiros e dois traseiros o que lhe confere boa sustentação nos galhos.
Ele é um animal onívoro, alimenta-se de insetos, lagartos, ovos, filhotes de outros pássaros e, principalmente, frutas. Seu hábito alimentar é diurno.

AGORA ENTENDI O PORQUE DA FÚRIA DOS TUCANOS E SUA HABITUAL NECESSIDADE DE AUMENTAR A FOME E A MISÉRIA; ASSIM FICA MAIS FÁCIL SE ALIMENTAR DOS FILHOS DOS OUTROS TRAZENDO A MORTE E O ABORTAMENTO DA ESPERANÇA...

Wednesday, June 7, 2006

Notícia Urgente SOBRE A GRIPE AVIÁRIA

Notícia Urgente que vem de Brasília, dá a dimensão da epidemia que ameaçava atacar o Brasil, mas foi estancada pela descoberta de um antídoto eficaz:

Segundo nosso correspondente em Brasília, o foco de gripe aviária detectado em Brasília foi debelado. Restando apenas alguns poucos contaminados que estão sendo isolados e, desta forma, cada vez mais enfraquecido.

A gripe aviária, ao contrário do que se pensa, teve seu primeiro foco epidêmico localizado no Brasil, na década de 90, com uma forma mais branda, mas altamente lesiva.

Essa epidemia deu-se com a contaminação de uma ave da fauna nativa brasileira, o Ramphastos toco, ave da ordem dos Piciformes e da família dos Ramphastidae. Ele é um animal onívoro, alimenta-se de insetos, lagartos, ovos, filhotes de outros pássaros e, principalmente, frutas. Seu hábito alimentar é diurno.

E, com esse hábito deletério para a natureza, de se alimentar de seres indefesos, como os filhotes de outros, criou um ambiente propício para a destruição da fauna, tanto selvagem quanto civilizada, destruindo o futuro de muitos.

A contaminação, através das fezes da subespécie latrus, a mais freqüentemente encontrada dentre as outras subespécies, as quais iremos abordar em seguida, nos leva a uma dimensão do potencial destrutivo desse animal.

Durante oito anos, esta ave, pode-se dizer tranqüilamente, de rapina, levou à miséria grande parte da fauna brasileira, inclusive com a destruição dos ninhos onde se encontravam a maior parte da população.

Porém, há mais ou menos três anos e meio, com a reprodução dos representantes da classe,Cephalopoda subclasse Coleoidea, ordem Teuthida, que inclui duas subordens, Myopsina e Oegopsyna, os pássaros contaminados passaram a perder a capacidade de destruir os ninhos alheios.

No ano passado, houve um recrudescimento da virose, contaminando outra subespécie, a vulgaris, de características mais agressivas, chegando a agredir outros espécimes dentro do próprio ninho.

Mas a associação dos da classe Cephalopoda, ordem Octopoda, parentes muito proximos dos Teuthida supra citados, a epidemia se tornou, para alívio de todos, improvável.

O fato de ter-se debelado essa ameaça ao país e à humanidade deve ser comemorado por todos; embora a contaminação pelas fezes dos animais possa ter deixado alguns, com uma forma crônica da doença. Forma essa que precisa de tratamento contínuo, para que as recaídas não ocorram.

DE BÓIAS FRIAS E BÓIAS QUENTES

O vírus da política ataca algumas pessoas em fases bem distintas da vida.

Conheci, em Minas Gerais, um médico desses antigos, da época onde ainda não existiam hospitais na maioria das pequenas cidades, quando a medicina era exercida quase que artesanalmente, sem laboratórios nem exames complementares mais efetivos.

Esse colega, já beirando os setenta anos de idade, pertencia a essa fase naquela cidadezinha bucólica.

Tinha como característica, o fato de prescrever medicamentos de há muito abandonados e substituídos por outros, sem que o abandonado médico, sem contacto com revistas e muito menos representantes de laboratórios e menos ainda com as notícias mais recentes da medicina, tivesse buscado qualquer atualização.

Outra característica que lhe era peculiar era o hábito de construir e destruir e reconstruir várias vezes a casa onde morava e onde era seu consultório e até centro cirúrgico, onde fazia pequenas, médias e até, ousadamente, cirurgias de maior porte.

Com o detalhe de ser, ao mesmo tempo, cirurgião, anestesista e parteiro, contando somente com o apoio de um atendente de enfermagem cujo apelido era bem sugestivo: “Peremo”.

Ao procurar saber a origem do apelido, alguns amigos foram bem objetivos – seu apelido derivava da resposta que dava quando alguém lhe perguntava como tinha sido seu dia de trabalho- “Peremo duas pendicite e uma ursa no istombo!”

Esse médico, durante sua vida de dedicação ao município, teve participação efetiva na construção do primeiro posto de saúde, no hospital municipal, na criação do Ginásio Estadual e depois na “Escola Estadual de primeiro e segundo graus”.

A construção do Clube Recreativo da cidade também fora idéia sua.

Portanto, quando jovem, tinha tudo para se candidatar com êxito ao cargo de Prefeito, mas não o fizera, deixando que a idéia fosse aflorar na sua maturidade.

Ao se aposentar, acreditando no poder que julgava ter sobre os cidadãos do município, lançou sua candidatura à Prefeitura.

Uma de suas promessas demonstra o grau de senilidade do nosso amigo.

Propunha, para ineditismo programático, uma coisa fantástica ou de insanidade ímpar.

“Vamos propor a transformação do Bóia fria em Bóia QUENTE, com a colocação de veículos da prefeitura, distribuindo a alimentação na Zona Rural, na hora do almoço e do lanche dos lavradores. Isso vai acabar com a comida fria, transformando os agricultores em BÓIAS QUENTES.”

Obviamente, com pouco mais de 200 votos, coube ao nosso doutor mudar-se, revoltado, para o Rio de Janeiro onde soube foi encontrado morto num motel, acompanhado de uma jovem adolescente de 18 anos.

Mas isso são fofocas, e eu odeio fofocar!

FOLCLORE POLÍTICO - DOS DEFEITOS DO EXCESSO DE FRANQUEZA

Retornando ao folclore político, tenho uma história que já ouvi algumas vezes, com fontes diferentes, mas merece ser contada.

Segundo uma das fontes, essa história se deu em Governador Valadares, a outra fala em Juiz de Fora; mas, de qualquer forma, vamos a ela:

Havia um candidato à eleição municipal numa cidade mineira que tinha a franqueza como principal característica e isso, apesar de ser uma virtude, muitas vezes atrapalha; e nesse caso, quase resultou numa tragédia.

Nos idos dos anos 70, antes da liberalização sexual, uma das características das cidades interioranas era a existência, para deleite de adolescentes e dos boêmios, a famosa ZBM – Zona do Baixo Meretrício.

Por uma questão econômica, tais prostíbulos se localizavam, na maioria das cidades, próximo ao centro destas. Onde, após uma noite com a namorada virgem, os meninos iam satisfazer seus desejos com as “bad girls” da época.

Em Muriaé havia uma casa de baixíssima qualidade e de péssima reputação cujo nome era bem sugestivo “Beco dos Aflitos”; já em Guaçuí existia um prostíbulo com um nome até certo ponto poético: “A Flor do Asfalto”.

Nessa cidade que não pude identificar, houve um comício deste candidato a prefeito, que me permito chamar ficticiamente de Lúcio Franco; mais franco que lúcido.

No comício em plena zona, ele tentando justificar a sua plataforma política, trouxe à tona um fato que mudou realmente a economia das prostitutas.

A zona que era no centro da cidade, fora transferida por um ex-prefeito que tentava a reeleição para a periferia da cidade onde ocorreram os trágicos fatos daquela noite perdida no tempo.

Ao subir no palanque, nosso amigo começa com um discurso apaixonante, falando da desigualdade social, da falta de escolas no bairro, da falta de creches, do estado de abandono em que se encontrava a saúde, etc.

Extremamente empolgado, foi aumentando o tom da voz, à medida que os aplausos se tornaram mais intensos e constantes; até que:

Num momento extremamente infeliz, no ápice do discurso saiu-se com essa;

“E o candidato do Governo, quando foi prefeito da outra vez, cometeu o maior absurdo que poderia ter cometido. A zona era no centro da cidade, onde dava muito mais renda do que aqui, na periferia, que fica distante, para prejuízo de todos, e de todas. Vocês mais antigos se lembram, e o quanto isso foi prejudicial. Mas vocês, mais novos, se não acreditam no que estou falando, perguntem para as suas mães e irmãs mais velhas, que eram quengas na Zona antiga...”.

Nem preciso dizer como terminou a história.

Antes de o pano cair, a conta do Hospital, com direito à estadia na UTI, foi paga pelo próprio candidato que, depois dessa, nunca mais apareceu em nenhum prostíbulo da cidade, para infelicidade de Mariinha Coxa Grossa; mas isso já é outra história...

MLST E PCC, DAS CULPAS E DOS GOVERNOS

Mais de quatrocentos mortos!
Esse é o balanço final do massacre ocorrido em São Paulo no mês de maio.
Os dados oficiais falavam em pouco mais de 100, mas a realidade foi muito pior.
Dentre esses 400, mais de setenta por cento à bala, demonstrando que a atuação dos grupos de extermínio foi muito mais efetiva do que a Secretaria de Estado de Segurança Pública queria mostrar.
Essa realidade nos dá a dimensão do resultado de uma política de Segurança totalmente ineficaz e desastrosa.
As disputas entre várias autoridades do Estado para tentar transferir a culpa pelos episódios demonstram cabalmente, que a culpa é de TODOS, sem EXCEÇÃO!
Desde o guarda penitenciário até o Governo, na figura do atual e, principalmente do ex-Governador que, através dos anos, demonstrou total incapacidade de lidar com o Crime Organizado.
O nascimento do PCC se deu na antiga administração que se mostrou ineficaz para lidar, inclusive, com os “aprendizes” da FEBEM, estendendo essa ineficácia para os “profissionais” do PCC.
O silêncio diante das denúncias de que as ações do Primeiro Comando da Capital seriam executas, demonstra que a conivência direta ou indireta da estrutura de poder de São Paulo ocorreu e ocorre, decorrendo da subserviência e da incompetência dessa em relação aos criminosos.
“Bandido bom é bandido morto”, pergunto então: quais os bandidos que poderiam estar nessa condição, os que mataram os policiais ou os que mataram os inocentes?
A não ser que o código penal tenha mudado, a pena de morte ainda não foi instituída no país, e se fosse, não caberia às forças policiais ou paramilitares o julgamento de quem deve ou não deve morrer.
Aliás, os grandes bandidos, inclusive Marcola, estão protegidos por uma série de benesses da lei, dos agentes da lei e, quiçá, dos homens mais poderosos do Estado. O acordo negado, mas evidente, entre as forças criminosas e áreas do Governo Estadual, demonstram essa proteção e, talvez, uma condescendência que cheira à conivência e, até, á cumplicidade.
A atuação omissa do Estado deflagrou a Guerra Civil onde, por demonstração de incapacidade e impotência, alguns setores oficiais passaram a agir a esmo, num flagrante desrespeito ao Estado de Direito. A omissão de dados sobre o número de vítimas é, claramente, a maior demonstração de que o Estado, frágil e conivente, é partícipe deste episódio.
Por outro lado, temos a invasão totalmente imbecil de um grupo de estúpidos ao Congresso Nacional a quem alguém, não me recordo quem, chamou de Sede Nacional Do PCC!
O ato estapafúrdio e absurdamente incoerente foi comandado por um débil mental, filho da oligarquia nordestina e acostumado aos desmandos dessa e a impunidade que a cerca, por um desses motivos que fazem o escravizador se apaixonar pelas causas dos escravos, mas sem se “limpar” dos vícios do coronelismo, comandou uma tropa de idiotas e tentou chamar a atenção para a sua “causa”.
A causa dos trabalhadores sem terra não é política somente, é UMA CAUSA DE BASE CRISTÃ. Mas a forma de ação inócua para a causa e nesse caso, PREJUDICIAL a ela, demonstra a falta de noção de causa e efeito dessa turba.
A reação do Governo, na figura do Presidente da Câmara, Aldo Rebelo, foi exemplar: PRISÃO PARA ESSA ESTÚPIDA HORDA.
NA HORA, PRISÃO para mais de 300 pessoas e, principalmente para os líderes dessa insanidade absurda.
Fala-se em tentar responsabilizar o governo federal pelas atitudes de um dos membros do Partido dos Trabalhadores que, imediatamente, já demonstra a vontade de expulsar tal cidadão.
Houve uma vítima não fatal, e 22 feridos. Mais de 300 prisões e o aceno de uma punição exemplar.
Se há responsabilidade de um Governo que agiu prontamente com o rigor da lei, o que dizer de um Governo que, além de não reagir com a presteza e a força necessária, ainda permite e tenta omitir um massacre de civis?
A situação seria cômica se não fosse trágica. Tentar transformar um ato de imbecis, reprovado por todos, principalmente do Governo federal, em algo comparado à conivência de um Desgoverno AVISADO DOS ATAQUES, INEFICIENTE NA REPRESSÃO E PASSIVO E CONIVENTE DIANTE DE MAIS UM MASSACRE DA POPULAÇÃO INDEFESA É MUITA CARA DE PAU!

DA VERTICALIZAÇÃO

As mudanças sobre a verticalização não vão alterar o panorama da disputa à Presidência da República, essa está irremediavelmente decidida.
O que me resta saber é se o segundo colocado irá ser Alckmin ou Nulo, o macaco tião dessa eleição.
Quanto aos Governos estaduais, prejudica o PT em um estado, beneficia em outro, na média, fica tudo igual.
Agora, o que me chama a atenção nessa eleição é o fato de que, a nível de Congresso Nacional, iremos ter uma das mais altas percentagens de votos nulos e em branco, o que ajuda aos políticos e partidos mais estruturados.
A militância do PT, por ser uma das mais ativas e fortes desse país, deve e tem a obrigação de ajudar seus candidatos com uma conscientização para que se votem nos candidatos do partido. Assim como o PMDB irá fazer.
Os partidos com bases mais fracas, como o PFL e o PSDB, partidos que não têm uma militância tão apaixonada e apaixonante deverão ter muito trabalho para convencer os eleitores a votarem nos seus caciques, a maior parte deles participantes desse Congresso Nacional que, para a maioria da população é sinônimo de espúrio.
Pode-se ter a certeza de que essa eleição trará muitas surpresas, entre elas a alta abstenção com relação ao Legislativo.
O fato de Lula ter sido poupado da crise que abalou o Governo e o poder é significativo: O povo diferenciou a crise DO LEGISLATIVO da tentativa desse; a de imputar ao EXECUTIVO, seus erros.
Lula deverá ter a mesma quantidade de votos que teve nas últimas eleições no segundo turno, podendo ter um aumento percentual dessa votação.
Alckmin está em empate técnico com os brancos e nulos, podendo ser ultrapassado pelo “macaco tião” dessa eleição.
Agora, no campo do Legislativo tudo é possível, inclusive senadores serem eleitos com menos votos do que o “tião”.
Com relação à Câmara dos Deputados, essa enorme abstenção poderá beneficiar aos candidatos de partidos mais organizados.
A verticalização, da forma que se apresenta, beneficia ao candidato mais forte, já que a maioria dos partidos vai tentar se associar ao que fizer o vencedor; sendo muito mais produtivo para o PMDB, por exemplo, uma aliança com o PT do que com o PSDB.
A afirmativa de Alckmin de que o PPS deverá se aliar ao PSDB irá, com certeza, ter uma grande resistência de setores de militantes do PPS, já que a nível regional, esta aliança poderá representar a perda de votos pela identificação com o próprio Alckmin e FHC.
Não acredito que, se for confirmada essa alteração pelo Supremo, isso poderá ser prejudicial às bases do Governo.
A candidatura própria do PMDB se for inviabilizada, levará o partido para a coligação pró Lula o que passa a ser muito interessante. Desejável até.
Outra coisa, para quem conviveu com Roberto Jefferson, conviver com os setores mais à direita do PMDB é fichinha...

Tuesday, June 6, 2006

EPIDEMIA

Sabia que restavam poucas horas, poucos minutos, era uma questão de tempo. Favas contadas, sabia que não tinha mais escolha.
Recebera a notícia havia muito pouco e essa era a sua última manhã.
Fora a vida inteira um pragmático. Sabia que a morte era inevitável.
Até a desejava, no íntimo.
Daria tempo para arrumar o quarto? Mas, para que arrumar se nunca mais seria seu, se nunca fora e não mais dormiria naquela cama.
Tudo seria incinerado, tudo.
Tinha consciência disso, inclusive fora um dos principais lutadores para que fosse assim.
Seu sacrifício seria a salvação de muitos, mas não de todos. A mulher já tinha ido embora, graças a Deus!
Levara pela mão o filho, única esperança que restava, nada mais.
A cidade estava infestada e sua batalha fora necessária, um sacrifício que, para muitos seria estúpido, mas inevitável.
Contabilizavam-se mais de milhão de vítimas fatais, isso sem contar às milhões e milhões contaminadas.
O homem ainda venceria, como sempre fez, desde tempo imemoriais.
Mas agora, nada mais a dizer nem a fazer.
Tinha que ligar para o centro de controle e sabia o telefone de cor.
Daí para a incineração de tudo e, principalmente, a dele.
Parecia cruel que, em pleno século 21, isso acontecesse. Mas era inevitável.
A morte seria inevitável, morte dolorosa e sem ar, com uma falência múltipla de todos os órgãos e funções.
Morte extremamente dolorosa, melhor seria uma aplicação venosa de cloreto de potássio. Ardia, mas era melhor que a agonia.
Depois, a incineração, o corpanzil reduzido a cinzas. Seus livros, memórias e suas músicas, tudo agrupado numa sacola e enterrada.
Junto com tantas biografias, seria estranho se pudesse entendê-las, ou as conhecer.
Ali, ao contrário dos cemitérios convencionais, não haveria nenhum resquício das diferenças de classe.
Todos sepultados em profundas covas, sem nome, sem identificação.
O telefone tocara e isso o despertou, faria sua última ligação, suicida. Necessária.
A noite trouxe a hemoptise e a epistaxe, a cama ficara rubra, totalmente inundada.
O suor denunciava a febre e o medo apoderara-se.
O laboratório já o havia prevenido, sabia bem o que tinha que fazer.
O antes portador era agora doente e, portanto ativamente contaminante.
Ao atender a chamada, não pode deixar de engasgar.
A mulher e o filho, como sempre, perguntando como estava.
Preferiu mentir, de nada adiantaria a verdade, de nada.
Tudo bem, estou ótimo, cada vez mais forte...
Assim que desligaram, não teve escolha.
“Sim, doutor, sabemos como agir.”
“Espere um pouco, sim, estaremos aí em meia hora.”
Meia hora, tempo para nada, nada...
Tomou um banho e sorriu.
Olhou para cada metro do quarto, numa inútil e insensata despedida.
A porta abriu-se, reconheceu o enfermeiro.
“Vamos lá, sem piedade.”
O fogo ardeu tudo.
Nada restou, nada.
Vazio...

Do Mineirês e de Aecinho

Segundo Aécio, quando começar o debate eleitoral, "o Lula vai ter de ser um candidato diferente. Não poderá ser aquele messiânico das últimas eleições que prometia o céu aqui na terra com 10 milhões de empregos e três refeições ao dia para todos os brasileiros".

Para o governador, o presidente, virtual candidato à reeleição, vai ter que explicar "as dificuldades que seu governo viveu" mas que "terá também realizações a apresentar".

Aécio, que tem mais de 70% de intenções de voto para continuar no governo mineiro, disse que não tem a "ilusão" de "uma transferência absoluta de votos" para Alckmin, que está em segundo lugar nas pesquisas eleitorais. "O que eu puder fazer para que o candidato Geraldo Alckmin melhore o seu desempenho em Minas Gerais eu vou fazer", disse ele, acrescentando que "o candidato Geraldo é que dará uma grande contribuição a isso, sobretudo, quando se tornar mais conhecido aqui".

O governador mineiro admitiu ainda que o presidente Lula "sempre teve uma base sólida em Minas Gerais: "os melhores resultados do Brasil ele alcançou exatamente em Minas Gerais", disse Aécio, lembrando que o presidente já disputou quatro eleições presidenciais.






Aecinho é de uma mineirice absoluta quando faz as afirmações acima.

Sabendo que, se entrar em atrito com Lula, perde muito e se apoiar Alckmin escancaradamente, não ganha nada, falou bastante sobre o nada e deu uma aula de mineirês.

Obviamente Lula não precisa prometer nada, basta mostrar o que já fez enquanto Presidente, comparativamente com os outros. E isso basta.

Isso no mineirês tem a seguinte tradução: “Não precisa falar nada e nem deve, somente mostrar as diferenças, que são gritantes, que já está no papo.”

Na segunda assertiva, a situação é mais clara ainda; Vou fazer o que eu puder pra ajudar meu companheiro, mas isso depende mais dele que de mim. Ou seja, não vou mover uma palha! Ele que se vire e fique mais conhecido, e isso é problema dele!

E, em terceiro lugar, Minas apóia Lula, inclusive...

Mineiramente falando, os sinais são esses. O recado para Alckmin é claro: “Te cuida cara, o problema é teu”.

A FOME E A ESPERANÇA

"É assistencialismo para quem toma café de manhã, almoça e janta e ainda joga metade da comida fora, que sobrou. Mas, para quem vive a pobreza neste país sabe o que significa uma criança tomar um café com pão com manteiga, sabe o que significa uma criança tomar um copo de leite, sabe o que significa uma criança ir dormir com a sua barriga cheia. Quem vive fazendo política só na capital ou na universidade ou quem fica fazendo política só em Brasília, não tem dimensão do Brasil real que nós enfrentamos." Luis Inácio LULA da Silva



Seu moço, por caridade
Escuta esse povo sofrido
Que vive nas tempestade,
Trabaia quar desgraçado
Pelos mata e nas cidade.
Esse povim sem parage,
Vivendo sem amparage
Dos home de capitár.
Eles chinga nóis de tudo
Quanto ruim há no mundo.
Chama nois de vagabundo
Que nois semo anarfabeto
Que nois semo cachacero,
Que num pode dá denhero,
Pra móde sobreviver,
Essa raça de safado
Desses pobre desgraçado
Que róba mais que ladrão.
Eles conta a mentirada
Pois num cunhece uma inxada
Nem sabe o valô da gente,
Pru mais que o mundo comente.
Nóis num passa de pilantra
Nossos fío, qui nem pranta
Num percisa de comida.
Essa gente é convencida
E não cunhece nois não
Não sabe o valô da vida
Sufrida nesse sertão.
Nem anda nesses comboio
Quar boi em canga marcado
Que anda dependurado
Nesses trem cá da cidade.
Nos otromóve eles passa,
Nem percebe os coletivo
Cheios desse bicho vivo
Que eles cunhece pur massa;
Trabaindo todo dia
Pra pudê dá mordomia
Presses homê, prus dotô
Nóis semo quem aproduz
A cumida que eles come
Apois veja, a própra luz
Que alumia bem os home
Se num fosse os disgraçado
Se num fosse o seu trabáio
Já tava tudo apagado,
Queria ver nos atáio
Dessa vida, vivo táio,
O rumo que eles tomava,
Quem sabe se eles paráva
Nus beco onde a gente véve
Onde não há quem se atreve
A chamar de residença
Chei de criança e doença,
Pra podê tê consciença
Da vida que leva a gente
Dexava nois té contente
Preles pudê aprender
Que num basta sabê lê
Pra se dizê sabedor
Que é percizo munto amô
E bem sei, que só merece
Amor, quem se conhece
Que num sabe conhecê
Aquele que nunca viu.
Portanto, moço seria
De munta serventia
O sinhô pode passá
Pobreza só pur um dia
Pra mode valorizá
O trabái de nossa gente
Quem sabe, ansim seu dotô
Havéra de valorá
Esse povo brasilero
Ia aprender mais, garanto
Que nos livro lá da escola
Nóis só presta em feverero
Ou se for craque de bola
Aí vanceis acha bão
Inté pága pra nus vê.
Nossas fía mais bunita
Tumbém serve pra vancê
Nas buate mais perdida
Mais se incontra pra valê
Com home de capitar
Pra servi de companhia,
Mas mar amanhece o dia
Tudo vorta como era antes
Dispois vem esse disprante
De chamá di inguinorante
O povo mais umiádo
Nois tudo semo safado
Na vóis desses doutô
Se esquece que nois é home
Nem percebe se nois come
Se nossos fío tem fome
Isso nem lembra o sinhô
Na hora dos seus projeto
Nois semo tudo uns inseto
Sirvimo pra atrapaiá
Sirvimo pra trabaiá
Pra alimentá os dotô!
Intonces já me vô indo
Pros sertão to retornando
Pras favela vô saino
Meu tempo ta se acabano
Vo vortá pro meu roçado
Ou então pro meu serviço
Passa dia mês e ano
O carro num anda, enguiço,
Já faiz tempo tá parado.
Mais ficaria contente
Se oceis perduasse a gente
Num custa perdão pedido
Perdoa por ter nascido
Um fío meu lá em casa
Que, pros óio dos doutô
Foi feito por descuidado
Nasceu fruto do pecado
Da inguinorança da gente
Mais me dexô bem contente
Esse meu menino amado
Que é fruto de munto amô.
Que nois pobre, tombém ama
Embora oceis me parece,
Num cridita nisso não
Nóis tudo fais nossa prece
Nóis tombém somo cristão.
Fíos do mesmo Sinhô
Que morreu, naquela Cruz
Que foi feito cum amô
E era pobrinho, Jesus.
Então pense por favô
Nu munto que se ensinô
O Pai de todos os home
Dos que come e que tem fome
De todos sem distinção
Que nois tudo nessa vida
Por mais que seja doída
Por mais que seja distinta
Diferente em sina e tinta,
NOIS SEMO TODOS IRMÃO!